Cadu Moura“Carter”, o novo fenômeno de views na Netflix – talvez impulsionado pelo sucesso do último blockbuster lançado na plataforma, “O Agente Oculto” – é um filme bom para debates e discussões sobre o atual estágio do gênero de ação no cinema, independente do exibidor e principalmente em termos de encenação e narrativa. A óbvia é o movimento claro de aproximar a narrativa cinematográfica do que é praticado nos games (seria isso também uma encenação cinematográfica? No mínimo um bom debate para outra hora).
Diferente da maioria dos filmes na narrativa e linguagem cinematográfica classica, “Carter” não tem exatamente um ponto de partida e de chegada em sua trama, e a fotografia surfa nesse conceito na busca de tomadas e mais tomadas únicas, a maioria delas na primeira pessoa, seguindo ou vivenciando o que o desorientado protagonista vai reagindo com violência e energia a cada incidente que o filme lhe traz – como um game.
O ponto é que a trama que parece ser rasa, genérica e sem muito sentido me traz muito a sensação do que vivemos na era da desinformação, onde realmente conjunturas políticas, alianças e informações precisam sempre ser aprofundadas e checadas, para não sermos levados a considerações equivocadas. Byung-Gil obviamente leva isso tudo às raias do absurdo, explorando tudo o que uma ficção pode lhe dar em termos de concepção filmíca.
Aliás, sempre bom um tapa bem dado e de mão aberta nas leituras verossímeis na análise de um filme, e aqui talvez exija um pouco mais de esforço do espectador para se desenlaçar de todo o turbilhão que toda aquela ação gamer nos impõe, e entender o conceito de tudo aquilo que se joga ali, no mundo da espionagem contemporânea. O agente não tem nome, nacionalidade e nem sequer entende seu real papel naquilo tudo, e assim como a ação abre o filme, ela se fecha abruptamente como um software de memória descartável – ou seria desCARTERável?
Perdão pelo trocadilho, mas o filme diverte ainda mais do que essa brincadeirinha final.