O curta metragem de estreia dos diretores Alan Sousa e Leão Neto apresenta a história de Niara (Marta Aurélia), uma policial escrivã que tem seu caminho cruzado por uma recém-viúva, Jana(Anna Luiza Rios), em busca de justiça por seu marido assassinado. Prestes a se aposentar, a policial tem de lidar com sua impotência perante um sistema falho e corrupto.
O roteiro, assinado também pelos diretores, se baseia em uma história pessoal do diretor Alan Sousa, que teve seu primo assassinado de forma brutal em uma cidade do interior do Ceará. O texto foi foi desenvolvido a partir do processo realizado por ambos os diretores durante graduação em cinema. O curso da faculdade de ambos possui a iniciativa de convidar atores e atrizes para participar do projeto de pesquisa de novos cineastas. Foi desta forma que as consagradas atrizes Marta Aurélia e Anna Luiza Rios entraram para o elenco. A partir de exercícios propostos, pesquisas e improvisações, o elenco estabeleceu seu núcleo, bem como a conexão do jogo em cena.
É um processo interessante de ser mencionado, uma vez que merece destaque a integralidade da construção das personagens, cada uma em sua individualidade, em constante paralelo com o coletivo, agindo em uma unidade em prol da narrativa, o que garante força ao filme.
Até mesmo o contraponto do filme, o delegado corrupto Chico, personagem do ator Pedro Domingues, ganha força ao ser confrontado por mulheres que mesmo com suas diferenças, se unem em prol de um objetivo único.
Aliás, outra ótima escolha é o fato da narrativa se utilizar da tragédia do assassinato apenas como ponto de partida, não se mantendo refém a problemática “per si”, e sim, explorando as consequências psico-sociais de quem fica, pós-tragédia.
O pós tragédia apresenta por vezes uma dicotomia no que diz respeito à humanização das personagens. Por vezes o trauma é tão presente e irreparável que não há solução para quem fica, a não ser conviver com as migalhas de uma vida possível que lhes foi tirada abruptamente.
O filme aborda questões de extrema e constante urgência como misoginia, opressão, relações de poder, e as ferramentas perpetuadas por um sistema societário patriarcal, e sobre relações de poder.
Quanto a este último, a discussão se torna interessante ao vermos a flexibilidade da sororidade feminina, que incita a reflexão acerca da fragilidade presente na união de coletivos, ainda que em relações horizontais. Nesse sentido, a transformação das personagens femininas se dá através do empoderamento das mesmas, em que o individual e o coletivo oscilam, mas que quando convergem, reverberam a força pulsante que a soma reflete na vida das pessoas.
*Filme assistido durante o 33º Cine Ceará
Confira a entrevista com o elenco:
CINE CEARÁ – CURTA METRAGEM CIRCUITO
O curta metragem Circuito foi exibido durante a Mostra competitiva Brasileira de Curta-metragem, no 33° Cine Ceará. Conversamos com os diretores e elenco e a crítica completa do filme você acompanha no site: www.hybrido.com.br #ceará #cinema #brasil