Cadu MouraExibido no último Festival do Rio em 2018, “Domingo” é um drama familiar dirigido por Fellipe Barbosa (de “Gabriel e a Montanha”) e Clara Linhart que nos traz uma família burguesa que se reúne no interior gaúcho no dia 1º de janeiro de 2003, dia da posse do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, e cujos integrantes desta reunião revelam aos poucos suas contradições, valores e segredos, associados ou não a este momento político brasileiro.
O roteiro de Lucas Paraizo (redator final da série de TV “Sob Pressão”), riquíssimo nos diálogos com pura sinergia com os problemas familiares e o contexto político daquela eleição na realidade dos integrantes daquela reunião (incluindo os empregados da casa), é a veia coronária do filme e nas interseções que o filme nos invoca enquanto evolui ao longo de seus atos.
O elenco se mostra bem afiado e afinado, mesmo os menos experientes como as crianças e adolescentes do filme, e os mais veteranos aproveitam cada camada de seus personagens, a se destacar principalmente Ítala Nandi como a matriarca daquela família, Laura, além de Camila Morgado como a esposa de um dos filhos de Laura, Bete, e o veterano Clemente Viscaino, como o silencioso caseiro José.
Sem dever muito a bons dramas contemporâneos com leves tensões e ironias em seus subtextos, “Domingo” é uma amostra de como a produção de filmes em grande volume acabam agregando filmes menores de boa qualidade que aos poucos podem ir conquistando novos admiradores e apoiadores dentro do país, e que eventualmente ainda não chegam com facilidade ao espectador brasileiro médio.