– Disponível na HBO Max a partir de 28 de Julho
Lançado em 2021, Genera+ion, seriado da HBO Max, segue um grupo de adolescentes em uma escola de Los Angeles enquanto eles descobrem a própria sexualidade e vivem seus primeiros relacionamentos e conflitos. Em sua bolha, num dos lugares mais liberais do mundo, eles são um perfeito retrato da geração Z, preocupados com o planeta enquanto problematizam todos os assuntos e vivem abertamente suas orientações sexuais e de gênero, mas cujo ativismo se limita aos posts em redes sociais.
Há dois estilos principais entre séries jovens – o primeiro, pouco realista, cujas idades dos personagens são praticamente irrelevantes para o enredo e que focam em escândalos, crimes e mistérios, como é o caso de Riverdale, Gossip Girl e Elite. Já no segundo, as idades são extremamente relevantes por serem focados em desenhar um retrato realista da juventude com seus hormônios aflorados e imaturidade típica dessa fase, como as ótimas séries Sex Education e We Are Who We Are e a fraca Love, Victor. E é nesse segundo grupo que definitivamente encontramos Genera+ion.
O programa começa devagar, introduzindo aos poucos cada personagem mas não dizendo muito a que veio. Mas estão quase todos ali – a adolescente ingênua e inexperiente que não percebe que está grávida até dar à luz, a menina problemática que acha que pode verbalizar preconceitos por ser filha de um casal gay, a menina tímida que não consegue entender seus próprios sentimentos, a adolescente que gosta de explorar a sexualidade mas não consegue lidar com a própria ansiedade e os pais problemáticos, o inexperiente que se apaixona por um amigo e o gay assumido que esconde as próprias inseguranças na maneira exagerada de se vestir, mas que vive sua liberdade sexual plena e celebra diariamente o amor próprio – um personagem que inicialmente pode incomodar mas que vai conquistando o espectador até o final da temporada.
Os pais são pouco explorados nesse universo, a não ser no papel da mãe neurótica, religiosa e preconceituosa que quer controlar a vida dos filhos para fugir do próprio casamento fracassado, o que acaba se tornando um ponto positivo – eles são, de fato, coadjuvantes na juventude onde um crush não-correspondido toma proporções meteóricas. E é dessa forma que a história vai se tornando mais interessante, à medida que personagens se tornam mais complexos e envolventes.
A aparente superficialidade inicial dá lugar a adolescentes tridimensionais que servem de espelho à audiência jovem e de lugar nostálgico às gerações anteriores que reconhecem parte de suas experiências ali e ao mesmo tempo lamentam a falta de liberdade na própria juventude. Em uma das cenas que melhor descreve a série, o conselheiro escolar diz a Chester, o personagem assumido e orgulhoso da sexualidade mencionado acima: “Você é tudo que eu gostaria de ter sido na minha época de escola”.
O roteiro é muito bem escrito e realista, fazendo bom uso de apps e mídia sociais, e elenco é excelente, com interpretações absolutamente naturais apesar de ser repleto de novatos, com destaque para Haley Sanchez, a Greta, que coloca todo o peso emocional de sua personagem no olhar. Entre os rostos mais conhecidos dos fãs de séries de TV, o arrasa-quarteirões Justice Smith, que interpretou o Ezekiel em “The Get Down”, da Netflix, dá vida a Chester (ele também estrela o segundo e terceiro filmes da saga Jurassic World e se assumiu gay no ano passado); Nathan Stewart-Jarrett, que fez sucesso no seriado britânico Misfits, interpreta o conselheiro Sam; Martha Plimpton, que viveu uma advogada de caráter duvidoso em The Good Wife, interpreta Megan (a tal mãe preconceituosa e hipócrita); e Sam Trammell, na pele de Mark, pôde anteriorimente ser visto como o vice-presidente incompetente da última temporada de Homeland e o metamorfo Sam em True Blood.
Enquanto “Queer As Folk” (ou “Os Assumidos”, no Brasil), seriado americano baseado em um programa inglês, que foi precursor em retratar um grupo de amigos gays em Filadélfia, mostrava o começo da luta por direitos LGB (mas não mencionava muito as pessoas trans), Genera+ion mostra o resultado dessa luta e os primeiros grupos sociais, em um lugar como a Califórnia, onde a alta aceitação faz com que adolescentes possam se concentrar em seu microcosmos de hormônios em ebulição e onde a bandeira do arco-íris já foi devidamente fincada.