SPACE JAM: UM NOVO LEGADO (TEXTO 2)
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Pode perguntar para qualquer criança da década de 1990 quem foi o maior jogador de basquete daquela época. Certeza que 99% das respostas serão Michael Jordan. Bom, sempre vai ter o metido a entendedor que vai discordar, mas a verdade é que Jordan foi e ainda é o maior símbolo do basquete americano. Não à toa, a marca de roupas e sapatos que carrega o nome dele, ainda é o queridinho de muita, mas muita gente.

E foi lá em 1996 que esse queridinho do esporte encontrou com o queridinho de gerações de crianças e adultos: Pernalonga. Juntos, os dois tiveram que unir forças com os outros Looney Tunes para vencer monstros que queriam escravizar Patolino, Frajola e cia, em um parque de diversões intergaláctico. E pior, os monstros desafiantes ainda roubaram o talento de outros monstros da NBA, como Charles Barkley, Shawn Bradley e Patrick Ewing.

Space Jam: O Jogo do Século pode não ser a maior maravilha do mundo, mas para qualquer criança daquela época, ver Jordan batendo bola com Pernalonga e se aventurando nas maluquices dos Looney Tunes era incrível. Junta-se a isso uma ótima animação, uma boa interação entre pessoas e os desenhos, uma trilha sonora excelente e, claro, Bill Murray. Sucesso nos cinemas, locadoras, TV e que está aí até hoje no imaginário dos já trintões e quarentões.

Eis então que chegamos ao ano de 2021 e um dos maiores jogadores da NBA da atualidade (e também um fenômeno de popularidade e marketing) também vai encontrar Pernalonga e seus companheiros para um jogo de basquete valendo “vida ou morte”. Em Space Jam: Um Novo Legado, é a vez de LeBron James se provar em meio aos Tunes, em uma história que se aproxima mais de um grande comercial de quase duas horas do que de um filme de verdade. Mas uma propaganda de que exatamente?

Logo de cara, uma grande propaganda da própria Warner Bros, já que o vilão do filme, vivido por Don Cheadle, é um algoritmo que vive nos servidores da produtora. Quando LeBron é sugado para o interior dos computadores, não tarda para uma imensidão de propriedades intelectuais da WB pipocarem na tela. E aí, temos um dos maiores erros do filme. Space Jam: Um Novo Legado estreou nos cinemas e diretamente no HBO Max, streaming que tem todos os conteúdos da Warner. Ou seja, o vilão do filme é algo que se assemelha ou vive dentro de um dos maiores produtos que a empresa lançou nos últimos anos. Além disso, o vilão é um algoritmo, ferramenta utilizada pelo HBO Max (e outros streamings) em nossas casas. Mas que ideia boa, né?

Além disso, a escolha de LeBron James é péssima. Não que Michael Jordan fosse um Robert DeNiro da vida, mas perto de James, Jordan mereceria pelo menos uma indicação ao Oscar. Falta ao astro do Los Angeles Lakers o carisma que Michael Jordan teve e que o ajudou a driblar a má atuação. Ninguém em sã consciência quer cobrar muito de jogadores que não são atores, mas é preciso algo para ajudar nessa finta. Note que várias vezes em que LeBron está falando, ele está fora da tela. Dessa forma, ele não precisa atuar. Apenas ler as falas.

E James ainda é desfavorecido por um péssimo roteiro, que erra no básico: a diversão e a interação do astro com os Looney Tunes. Uma das coisas mais interessantes do filme de 1996 é ver Jordan chegando ao mundo animado, descobrindo suas dinâmicas, sendo sacaneado pelos desenhos e tendo que, no final, entender que, ali, tudo seria possível. No novo filme, assim que LeBron se torna um desenho (mais um artifício para que ele não precise atuar) ele já entende como as coisas funcionam: gira o pescoço 720 graus, infla as pernas amassadas, não estranha ter virado uma bola… Tudo é muito fácil para ele.

E aí é a Warner Bros falando com uma geração que está acostumada a encontrar todas as respostas na ponta do dedo, na tela do celular. Uma geração acostumada com o efêmero. Com o meme que nasce e morre no mesmo dia, com as redes sociais que surgem, viram febre e somem em poucos meses. Space Jam: Um Novo Legado é exatamente isso. Um recorte de várias pequenas esquetes, cheias de informação e easter eggs, que aparecem como pop-ups na tela e somem. As piadas são enfileiradas como os mais populares vídeos de YouTube: corte, piada, corte, piada, corte, piada…

E o mesmo acontece com o grande jogo no final. Uma plateia lotada com todos os personagens do “servidor” da Warner Bros, pronta para que os espectadores fiquem pausando o filme para caçar as referências, e um jogo de basquete com as regras de um mundo de videogame, criadas pelo filho de James (que ele não aceita que não goste de basquete). No final das contas, não precisava nem ser um jogo de basquete, já que a cada combo, os jogadores fazem 50, 300, 1000 pontos. Seria mais justo com o espectador e com o público alvo, que fosse uma partida de Fortnite, de League of Legends ou qualquer jogo que esteja na moda hoje em dia.

Mas vamos lá, nem tudo é um desastre completo. Os Looney Tunes continuam sendo incríveis, seja no desenho 2D ou na nova (e incrível) roupagem 3D. É na hora que Pernalonga vai recrutar o Tune Squad novamente que o filme tem a sua melhor sequência. Eles vão passeando por filmes, desenhos e até histórias em quadrinho. A sacada do Papa-Léguas e Coiote em Mad Max: Estrada da Fúria me arrancou um baita sorriso. Assim como a do Ligeirinho em Matrix. Vale destacar também o esforço (e a diversão) de Don Cheadle para tentar entregar algo no filme.

No final das contas, Space Jam: Um Novo Legado é uma grande decepção. O filme cita o original em dois ou três momentos e nem sequer toca o famosíssimo tema do primeiro filme. É como se o passado fosse uma mera referência no meio de tanto conteúdo novo. Não é à toa que o público do filme teve seu próprio meme escancarado algumas semanas antes do lançamento do filme com o termo “cringe” e a negação do “velho”.

Mas o pior é que nem para meme o filme funciona. Ele está mais para aquele anúncio chato que antecedo o vídeo que você está doido para ver no YouTube. Pena que não tem o botão “pular” no canto da tela e que não dure 15 segundos.