LADY GAGA - THE CHROMATICA TOUR - LONDRES 29/07/2022
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Após 2 anos de atraso devido à pandemia do Covid-19, Lady Gaga finalmente conseguiu percorrer o mundo com a turnê Chromatica Ball, promovendo seu mais recente álbum, lançado bem no momento em que a maioria dos países entrava em quarentena. A primeira das duas apresentações agendadas em Londres aconteceu no dia 29 de julho no estádio de futebol Tottenham Hotspur, no norte da cidade.

Tecnicamente, Lady Gaga nunca decepciona. Assim como em suas turnês anteriores, os vocais são absolutamente perfeitos. Não há forma de fazer a cantora desafinar, o que marca uma de suas grandes diferenças para algumas das outras divas pop – sua preparação vocal é impecável e o show é desenhado de uma forma que permite que ela mostre sua versatilidade sem deixar o canto em segundo plano. Outra diferença é a presença da banda ao vivo, com dois guitarristas, um baixista e um baterista mantendo o nível musical de fazer inveja a muitas bandas de rock. As pirotecnias com jatos de fogo e coreografias detalhadamente executadas completam um espetáculo sem falhas e recheado de referências artísticas e de moda, marca registrada do trabalho de alguém que participa ativamente da concepção de tudo que leva seu nome.

A nova-iorquina conhece bem seu público e isso fica claro nas primeiras imagens transmitidas nos telões espalhados pelo palco. A bizarrice que a fez famosa no começo da carreira aparece em imagens meticulosamente produzidas para introduzir o universo alienígena de Chromatica. O espetáculo começa com uma Gaga um tanto contida, provavelmente fruto da fibromialgia que ela sofre e que a obrigou a cancelar a turnê anterior e shows no Brasil. Envolta em uma espécie de cápsula espacial, ela gira em cima de uma plataforma enquanto ela entoa alguns de seus maiores sucessos – começando com Bad Romance, seguida de Poker Face e Just Dance, deixando o público aquecido nos gogós e passos de dança. A partir daí, ela se liberta e se junta à trupe de dançarinos em um show dividido em 5 atos, com trocas de figurino, cenografia e esquema de cores – uma desculpa para dar tempo de recuperar o fôlego e trocar de roupa, mas que poderia ter intervalos mais empolgantes. 

Apesar de apresentar hits dos primeiros álbuns, são nas músicas novas, de Chromatica, que ela realmente brilha – e empolga um público fiel que se empolga e grita as letras das canções nunca antes apresentadas ao vivo. É como se fosse um recado da artista para seus fãs – “não esqueço das minhas raízes que me trouxeram vocês, mas essa sou eu agora”. E os fiéis seguidores, conhecidos como “little monsters”, mostram que estão felizes de seguir a Mãe-Monstra em mais uma jornada comandada por ela. Em troca, ela alimenta a sede dos fãs pelo estranho e excêntrico, presente nos figurinos de tantos dos espectadores presentes que homenageiam suas diferentes eras, performances e clipes. 

O ponto mais alto do show é, sem dúvida, ‘Born This Way’. Lady Gaga começa uma de suas músicas mais amadas no piano, em uma versão lenta. O público, que acompanha cantando as letras emocionado, vibra quando ela salta de seu banquinho e muda para a versão original, com direito à icônica coreografia, e lembrando que ela é uma das maiores aliadas da comunidade LGBTQ+. É o momento mais inesquecível em meio a tantos outros. Mas até mesmo quando senta no piano e mostra toda a sua força vocal, levando muitos fãs às lágrimas (principalmente em ‘Shallow’, do filme Nasce Uma Estrela), ela não abandona o cenário monstruoso, óculos intergalácticos e palhaçadas. Para encerrar, ela volta ao palco principal para os singles mais bombados do álbum – ‘Stupid Love’ e ‘Rain on Me’, que leva a plateia ao delírio. E encerra com a poderosa ‘Hold My Hand’, trilha do blockbuster arrasa-quarteirão ‘Top Gun: Maverick’. 

Chromatica entrega o que promete – um show divertido, animado e reflexo do talento indiscutível e imenso de uma das maiores estrelas da música mundial. Mas é no comparativo às suas turnês anteriores que ele perde seus únicos pontos. Quem acompanha a carreira de Lady Gaga e teve a experiência de ver a artista se desenvolver frente ao público com uma explosão de sucesso que a catapultou ao estrelato, percebe a diferença para sua nova empreitada. Ao colocar as performances dos álbuns anteriores lado a lado com essa turnê, falta um pouco de energia – não em sua técnica perfeita, mas na forma como ela se apresenta de corpo e alma e interage com a multidão apaixonada. 

É difícil saber qual é o motivo – seus problemas de saúde física e mental, o foco em sua bem-sucedida carreira de atriz a levando a se distanciar um pouco da música, seu amadurecimento como cantora em busca de ritmos diferentes mas menos populares com seus fãs (como o jazz e o country), os 2 anos de pandemia que esfriaram a celebração do álbum que não consta mais como recém-lançado, ou tudo junto. Mas não é nada que tire o brilhantismo de Lady Gaga, em sua maestria de comandar estádios lotados com uma imensidão de diversidade, orgulho e amor.