Na estréia do espaço “Ouvindo Filmes”, escolhemos trazer o impacto das músicas e trilhas sonoras dos filmes do diretor Paul Thomas Anderson em sua filmografia, assim como na narrativa dessas obras. O cineasta é hoje um dos principais nomes do cinema norte-americano, realizando filmes bastante referenciados em Robert Altman, Jonathan Demme e Martin Scorsese, e cada vez embarcando mais num estilo clássico em sua narrativa.

Gwyneth Paltrow e John C. Reilly em “Jogada de Risco” (1996)

Em seu primeiro filme, “Jogada de Risco” (1996), Anderson iniciava sua boa parceria com o compositor Jon Brion (onde a faixa de destaque “Clementine´s Loop entra numa virada importante entre o primeiro e o segundo ato) e a cantora Aimee Mann, que canta “Christmastime”. Além disso, destacamos também a canção “Love is free”, de Brenton Wood, onde o som do sax e o tom melódico do vocalista traz toda a ambientação charmosa do cassino em Las Vegas onde o protagonista Sidney (Philip Baker Hall) lida seus negócios, além da história de amor de seu pupilo John (John C. Reilly) com a garçonete Clementine (Gwyneth Paltrow).

Mark Wahlberg em “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” (1997)

Já no seu segundo filme, “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” (1997), a narrativa tem na música o fio condutor da evolução temporal na história, mesclando clássicos da disco dos anos 70/80, como ”The Best of My Love” do The Emotions na introdução dos personagens, na transição do segundo pro terceiro ato com “Machine Gun” dos Commodores, com cena do elenco dançando junto numa pista de dança celebrando a ascensão do protagonista Dirk Diggler (Mark Whalberg) na indústria pornô.

Alfred Molina em “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” (1997)

Mas a canção a ser destacada em “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” certamente é um dos clássicos de Rick Springfield, “Jessie´s Girl”, numa cena tensa na parte final onde Dirk e dois comparsas (John C. Reilly e Thomas Jane) tentam dar um golpe vendendo cocaína para um figurão de Beverly Hills interpretado por Alfred Molina, onde um garoto asiático a todo momento solta fogos de artifício na sala em meio a canção na sala.

Melora Walters em “Magnolia” (1999)

Em “Magnolia” (1999), seu terceiro longa-metragem, Anderson focou o uso da música nas transições de atos da narrativa em canções de Aimee Mann, seja introduzindo seus personagens com “One”, ou na famosa cena surrealista onde todo o elenco canta “Wise Up”, ou na tocante “Save Me” que conclui o filme com um dos sorrisos mais arrepiantes do cinema dado pela personagem Claudia (Melora Walters). Mas impossível não destacarmos também a faixa “Goodbye Stranger” do Supertramp, numa cena marcante de Donnie Smith (William H. Macy), um ex-celebridade infantil deprimido pela ausência de carinho.

Adam Sandler em “Embriagado de Amor” (2002)

Seu quarto filme, “Embriagado de Amor” (2002), foca mais no trabalho de Jon Brion que é presente na construção atormentada do protagonista Barry (Adam Sandler), cujo auge seja a faixa “He Needs Me” presente na conclusão romântica do personagem com seu par (Emily Watson) no Havaí, mas a canção que define bem o protagonista é “Danny The Lonely Blue Boy”, de Conway Twitty, por Barry ser solitário e vestir sempre ternos azuis.

Katherine Waterston e Joaquin Phoenix em “Vício Inerente” (2014)

Em “Vício Inerente” (2014), uma incursão de Anderson ao universo hippie da literatura de Thomas Pynchon, a trilha sonora navega por diferentes tendências, de CAN ao clássico Chuck Jackson, passando até pela música romântica japonesa de Kyu Sakamoto, mas o grande destaque é a canção de Neil Young, “Journey Through The Past”, que marca importante momento romântico do protagonista Doc (Joaquin Phoenix) com seu par romântico Shasta (Katherine Waterston).

Daniel Day-Lewis e Vicky Krieps em “Trama Fantasma” (2017)

Já em “Sangue Negro” (2007), “O Mestre” (2012) e “Trama Fantasma” (2017), obras de época com narrativas mais clássicas, PTA fez da parceria com Jonny Greenwood da banda Radiohead nas suas trilhas sonoras uma nova marca de seu cinema, usando mais do instrumental do que as canções que fizeram parte de seu início de carreira, onde podemos destacar a perturbadora “Convergence” no primeiro filme, e “Able Bodied-Seamen” e “Changing Partners”, esta uma composição de Greenwood com vocal de Helen Forrest no segundo filme, e as melodias “Phantom Thread I, II e III”, baseada em piano e violino incidental.

Philip Seymour Hoffman em “O Mestre” (2012)

Neste resumo da presença da música nas obras de Paul Thomas Anderson, fica demarcada sua importância tanto para sua linha narrativa de contar suas histórias, como para demarcar bem o ambiente e contexto vivido tanto nas histórias de época como nas contemporâneas, com canções escolhidas a dedo, demonstrando o grande cineasta que é, atento a todos os detalhes de seus filmes.

Ouça a playlist que montamos sobre este posta ao lado.

Paul Thomas Anderson (PTA) nas filmagens de “Magnolia”