‘Ross.’, álbum de 2019 do Low Roar, merecia, com méritos, figurar na lista de melhores do ano de muitos ouvintes. Não é por menos. O projeto musical de Ryan Joseph Karazija chegou a cativar até Hideo Kojima, renomado designer de jogos e responsável pelo aclamado ‘Metal Gear Solid’. De fã, Kojima passou a ser amigo do músico pedindo, inclusive, que o artista colaborasse com algumas canções para o jogo ‘Death Stranding’ (que foi lançado também em 2019).
Karazija viajou bastante pelo mundo. Da Califórnia seguiu até Reikkjavik, onde encontrou seu lugar ideal para compor e viver. Costuma gravar seus discos num laptop e na comodidade de sua casa. Sua música com texturas e camadas estruturadas se estilhaçam em panoramas sonoros diferenciados. O músico emula muitas influências e similaridades. Nomes como Woodkid, Of Monsters And Men, Old Man Canyon, Pink Floyd (como sugere a belíssima faixa de abertura, “David”), Radiohead fase Kid A (“Burial Ground”) e Sigur Rós (“Captain”) são fáceis de passar pela cabeça do ouvinte durante as 12 canções do álbum.
A sonoridade alcança uma carga épica, mesmo que muitas vezes prefira se alojar na sombra da melancolia e se guie pelo clima mais etéreo (“Clareland” e “Everything To Lose”). Um instrumental que se apoia em instrumentos variados: dos mais atuais (sintetizadores, teclados, guitarra) até os mais remotos (harpas, clavicórdio e órgão). Essa ligação entre a Modernidade e o Vintage traz faixas solenes como “Fucked Up” que de um começo entregue a um contorno Folk vai ganhando peso, se afunda em sopros e adquire efeitos assombrosos, numa canção com 9 minutos de duração.
A aproximação com o Pop-Rock e a Eletrônica garante momentos mais fáceis de assimilar, mas não tão menos complexos. “Fade Away” não se esquece de uma batida contagiante mesmo que sufocada entre pianos, efeitos e vocais pungentes. “Stay Calm, Keep Quiet” mostra que na melancolia há um espaço para algo que traz conforto e os instantes finais se abrem para uma melodia feliz com percussões bem trabalhadas.
‘Maybe Tomorrow’ é uma daquelas obras tipicamente estilhaçadas dignas de múltiplas audições atentas. Não tem problema. Álbuns com qualidade nunca deixarão de existir, por vezes basta apenas um músico com um notebook em mãos e uma mente investigadora de música.