Estreia solo de Matt Berninger é sombria e liricamente linda! Em um ano turbulento e melancólico, bifurcado por isolamento social, em que vimos o contato físico e afetos cada vez mais escassos, ‘Serpentine Prison’ cai feito uma brisa noturna que toca o lado sensível e sombrio da alma.
Um refúgio pautado na mais pura beleza, nostalgia, melancolia e desilusões amorosas. Matt Berninger (The National) é um mestre em criar canções banhadas nas águas de oceanos de puro, baladas entristecidas que acalentam ou partem seu coração de vez.
Berninger canaliza a essência do som do The National e cria um enredo no qual salienta tudo aquilo que o torna único. Dono de uma voz inconfundível e notória, algo que faz de ‘Serpentine Prison’ um conjunto de canções bem elaboradas, arranjadas e, ao mesmo tempo, abandonadas no vazio que preenchem a alma. Sua música vai ganhando Canções que vão obtendo beleza à medida que vai crescendo durante a audição. Um infortúnio que insiste em bater à porta na calada da noite.
“One More Second” soa conturbada. Um dramático apelo romântico, que à medida que evolui parece ganhar benção de Nick Drake. A atmosfera bucólica ganha tons mais expressivos e autênticos em “Silver Springs”, em que Matt faz um dueto lírico e lindo com Gail Ann Dorsey, sim, ela mesma, parceira incomparável do eterno David Bowie. É só lembrar do incrível dueto entre Bowie e Dorsey em “Under Pressure”, para sentir a energia canalizada aqui.
“Distant Axis” é luxuosa e sombria. A canção ganha uma solenidade de hino, que lembra o fatídico Bruce Springsteen. “Take Me Out Of Town” vai tentar quebrar seu coração e fazê-lo em pedaços com a beleza emanada por uma balada levada por pianos que ganham a forma mais central do som do The National. As duas últimas canções que fecham o álbum, “All For Nothing” e “Serpentine Prison” são carregadas de sentimentalismo que te mergulham numa viagem bucólica cercada por uma atmosfera solitária de pensamentos que surgem como relâmpagos na mente.
O que fecha o disco de ponta a ponta com sua temática existencialista, bem propícia para esse ordinário e plácido ano de 2020. Um álbum de canções metódicas que evoluem conforme seu estado de humor no momento que estiver ouvindo.
Um disco denso, carregado por uma atmosfera lírica e melancólica. Um trabalho pessoal de um artista que inventou o seu próprio eu para expressar sua dor e exagero acumulado na alma.
Belo e comovente. Para ouvir em noites solitárias com uma garrafa de vinho ao lado.