FURIA PRIMITIVA: Dev Patel não inventa uma nova receita, mas com certeza apresenta um pão muito diferenciado.
Muito se ouviu falar sobre Monkey Man antes de sua estreia.
Primeiro, por conta do nome que encabeça o projeto: Dev Patel, que chega de forma quase onipresente, assumindo múltiplas funções como roteiro, produção, direção e protagonismo.
Nada de novo se tratando de filmes de ação, já que muitos realizadores do gênero também assumem seus projetos quase que em sua plenitude.
Em seguida, por conta de outros nomes de força: Netflix e Jordan Peele. Após a Netflix abandonar o projeto, o diretor de filmes de sucesso como “Corra!”, ficou tão impressionado com a visão de Patel, que se juntou à produção do filme, inclusive se responsabilizando pela distribuição, através de sua produtora Monkeypaw.
Para fechar com chave de ouro esse pacote pré filme, temos os bastidores caóticos e sofridos das filmagens, que contaram inclusive com uma mão quebrada de Patel, que assim teve de continuar as filmagens por conta do cronograma apertado da produção.
A jornada penosa, irregular e desafiadora de Patel e de seu protagonista guarda semelhanças.
“Kid”(menino), cujo nome permanece no anonimato, vê sua mãe ser morta e seu vilarejo dizimado, por conta de uma disputa política/territorial corrupta e desigual. Já adulto, ele (Dev Patel) participa de lutas por dinheiro. Usando uma máscara de macaco e sob o codinome de “Monkey Man”, ele é espancado por lutadores mais populares, ou seja, é pago para apanhar e sangrar. Esse é o show.
Mas por trás disso, ele traça um plano de vingança complexo e audacioso contra as lideranças corruptas que mataram sua mãe.
A primeira coisa que desponta aos olhos é o cuidado minucioso, detalhista, com o qual a história é contada. Tanto no que diz respeito ao roteiro, quanto à execução do mesmo. A cada take vemos uma engrenagem de cores, texturas, movimentos, funcionando com tamanha organicidade, que você esquece que se trata de uma “mise en scene” com grandes influências como Van Dame, Bruce Lee, e até mesmo os filmes da saga John Wick. Isso porque a indústria hollywoodiana do gênero de ação foi amplamente explorada, de forma que, diante de um olhar viciado nesse sentido, fica realmente difícil não traçar qualquer comparativo, mas ainda assim, o filme de Patel tem algo a mais.
A forma como ele infunde a cultura indiana – tanto na parte estética quanto narrativa – é realmente um dos pontos altos da trama.
A problemática das drogas, as castas versus as favelas, a narrativa de pertencimento e empoderamento dos Hijira, comunidade transgênero, são elementos que garantem tanto a visão crítica/política do filme, bem como a alma, o sentimento do mesmo.
E tudo isso, através de uma câmera frenética e inclusiva, que acompanha as coreografias das lutas e também nos dá objetivas eletrizantes do protagonista. Sem contar a trilha indiana, certeira, que dita o ritmo de tudo.
Dev Patel sabe bem o que quer. Ao se utilizar de um gênero de fácil reconhecimento didático cinematográfico – ação – garantiu espaço para sua crítica afiada ao Governo indiano, no que diz respeito às drogas, opressão, corrupção e ao quase sempre problemático processo de eleições do mesmo.
Como resultado, criou um filme de ação refrescante, elaborado, que não é côncavo, justamente por ser propositadamente convexo, com possibilidades de muita expansão.
Com certeza muitos dirão que não há nada de novo nesta receita de pão. A base da receita pode ser conhecida, mas com certeza, um pão extremamente revigorante e diferenciado Patel pode se orgulhar de ter feito e, quem sabe, até pensar em abrir um novo tipo de padaria.
FÚRIA PRIMITIVA | Trailer Oficial Legendado
Estrelado e dirigido por Dev Patel, FÚRIA PRIMITIVA acompanha a jornada violenta de um homem em busca de vingança. Patel é Kid, um jovem que ganha a vida em um clube de luta clandestino, onde, usando uma máscara de gorila, é brutalmente espancado todas as noites por lutadores mais populares.