DUNA: PARTE DOIS, dir. Denis Villeneuve
9.2Pontuação geral
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9.5

Villeneuve já tinha mostrado de forma cristalina seu potencial para o desafio de adaptar o complexo universo criado por Frank Herbert.
Se na primeira parte, a narrativa é mais lenta e progressiva, visando a apresentação e o estabelecimento do universo em si e de seus personagens, agora, na segunda parte, é hora de mandar ver na ação.
E ele não perde tempo ou poupa esforços. O filme já começa com foco para o remanescente ambiente violento, instaurado pós-ataque dos Harkonnen à casa Atreides. Em meio a isso, temos Paul (Thimothee Chalamet)  junto com os Fremens, nômades que ocupam a Duna. Focado em seu desejo de vingança pela morte do pai, Paul luta com seus próprios demônios, e resiste à profecia que muitos acreditam, de que ele seja o profeta que vai liderar a revolução e salvar a todos.

Da cena inicial até a cena final, a palavra que ecoa incessantemente é: “grandiosidade”. Um espetáculo fotográfico com grandes paisagens e batalhas épicas, embaladas por uma trilha sonora meticulosamente somatória e funcional, daquelas de causar borboletas no estômago.

Cada prévia de batalha ou cena que se refira ao Harkonnens, há um estrondo que toma conta da sala de cinema, quase como se soasse um gongo avisando que o “bicho vai pegar”.

Naves, a vastidão do deserto e vermes gigantescos compõe o espetáculo visual, através da fotografia assinada pelo vencedor do oscar Greig Fraser, que chega com tudo em busca de outro prêmio. Sua fotografia ressalta a grandiosidade dos ambientes e diferencia as pulsões de vida e de morte  – seja em personagens ou em espaços. Uma fotografia que exalta a potência cinematográfica, garantindo ao espectador uma experiência única, que somente uma caixa preta pode proporcionar.

Mas se engana quem acha que o filme se resume a isso. Por baixo de tanta areia, ‘a la’ fremen, Villeneuve constrói de forma consistente e assertiva, uma narrativa que trabalha questões como desigualdade, violência, poder e fanatismo, sendo este último, um fator agravante aos demais.

A narrativa foca na figura de Paul Atreides e em sua progressiva transformação em líder. Considerado morto por todos os inimigos, Paul, apesar de acolhido pela tribo dos Fremen, ainda passa por testes. Sua figura divide os tribais, revelando uma divisão de crenças e costumes entre os mesmos. Os descendentes do Sul, liderados por Stilgar (Javier Barden), acreditam que Paul seja o profeta que os levará ao Paraíso. Eles são grandes responsáveis pela dissipação dessa crença. Cada teste superado por Paul é creditado a profecia.

Dentre desse espectro temos sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), essa sim, uma das responsáveis diretas pela dissipação da profecia em prol de seu filho. O arco da personagem é interessante quanto às suas transformações e os impactos dela sobre sua maternalidade, principalmente. Por conta de suas habilidades místicas, Lady Jessica é obrigada a assumir o posto de reverenda madre da tribo, já que a atual está falecendo. Assumir este posto significa assumir séculos e séculos de sofrimentos que uma reverenda transmite a outra. Assim, Lady Jessica teme por sua vida e pela vida de sua filha, que ainda está gerando.

Pós ritual, a personagem se transforma na personificação da misticidade e força do papel que lhe foi incumbido. Ela passa a conversar com sua filha – ainda na barriga – e juntas, passam a controlar e manipular o redor para que a profecia de Paul como Messias se concretize.

A transformação de Lady Jessica impacta diretamente na transformação de Paul, que no início se mostra receoso e consciente acerca do perigo da fé cega de seus fiéis e o que isso pode acarretar, em termos de poder e controle e, no decorrer do filme, acaba por adotar o posto esperado por todos e utilizar de sua força para assumir o controle do que considera justo.

Timothee Chalamet, que no primeiro filme tinha mostrado um Paul morno, sem muitas nuances, nesta sequência, consegue crescer com seu personagem e, ainda que mantenha a “chochisse” em muitos momentos, convence na transição de empoderamento de Muad’dib, nome que adota após ser aprovado no teste do deserto.

Quem fica um pouco mais apagada nesta sequência é a Chanti de Zendaya, sendo reservado a ela o posto da sanidade solo em meio aos acontecimentos. Mesmo sendo interessante o contraponto da sobriedade, o arco de sua personagem acaba servindo mais de escada para Paul. De qualquer forma, diante do fim suspenso e do que promete a próxima sequência, é possível prever uma reviravolta interessante de (re)apropriação de sua personagem. Assim esperamos.

Por fim, impossível não falar de Feyd-Rautha, o sobrinho psicopata do Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård). O personagem é apresentado e construído para ser o grande vilão desta sequência. É dedicada grande parte da trama à sua história e Austin Butler não faz feio em meio a grandiosidade – de seu personagem e dos espaços que o cercam.

Aliás, um dos grandes acertos de escalação foi o ator, cuja feição natural e levemente engessada foi de grande soma quando do encontro com a maquiagem fria e pálida dos Harkonnen.

Por fim, temos mais um acerto de Villeneuve, um filme épico, grandioso, que faz jus às grandes sagas cinematográficas. Um cenário de incertezas, desigualdade, causado pela complexidade humana, com seus acertos e falhas, a jornada do herói, o elemento romântico, a luta do bem x mal, a catarse.

Duna consegue unir a grandiosidade de um novo universo, pós apocalíptico, sem esquecer da responsabilização humana acerca dos fatos.

Prevê um futuro em que a empatia é equiparada a fraqueza e que o poder, independente da situação em que a humanidade se encontre, ainda figura como o combustível mais valioso de uma sociedade.

Um filme para, mais que assistir, experenciar a potência do grande cinema.

Duna: Parte 2 | Trailer Oficial 3

Você não está pronto para o que está por vir. #DunaParte2, 29 de fevereiro, somente nos cinemas. A saga continua com o premiado cineasta Denis Villeneuve no comando de Duna: Parte Dois, o próximo capítulo da adaptação para o cinema do célebre romance “Duna”, de Frank Herbert, que traz o mesmo elenco internacional de estrelas, agora expandido.