Mais um exemplar do cinema de gênero no Brasil nos últimos anos, “Morto Não Fala” é uma produção de terror bem calcada no formato que é consumido pelos fãs de cinema daqui há décadas, com todos os elementos que podem satisfazer um fã desse tipo de filme.
A história é centrada no funcionário de um necrotério, Stenio (Daniel de Oliveira), que possui um dom de conversar com os cadáveres que chegam para serem cuidados por ele. Num casamento em crise com Odete (Fabiula Nascimento) e dois filhos, Stenio vai levando essa balança da dura vida profissional com pobre vida pessoal até um cadáver conhecido aparecer no necrotério e lhe fazer uma revelação, que desencadeia mentiras, mortes e uma ameaça sobrenatural.
Dennison Ramalho realiza em seu primeiro longa um retrato da violência urbana e social do Brasil com todos os fundamentos do cinema de horror, ambas em total sinergia num universo muito bem resolvido e que desenvolve a história com bastante acerto e coerência, mesmo com os tons de fantasia necessários.
Daniel de Oliveira realiza mais um trabalho excepcional de interpretação com o seu protagonista, dúbio como um ser humano é, e o roteiro constrói bem as lições que ele absorve ao longo da evolução daquela história, tendo boas colaborações também do restante do elenco adulto, principalmente de Fabiula Nascimento como a esposa de Stenio.
A trilha e o som são muito bem trabalhados para construir o universo sombrio que o protagonista atravessa dentro do conceito que abraça, o de terror B, e os efeitos especiais, mesmo de baixo orçamento, não comprometem a experiência em nenhum momento, e mesmo sem apostar no gore a história vai bem no aspecto sobrenatural.
Já a fotografia utiliza bem os ambientes escuros na parte final do filme, além do opaco ambiente de trabalho de Stenio, que serve como uma espécie de limbo para a comunicação com os mortos – e no ato seguinte, percebemos um maior caos com a introdução de um tom mais avermelhado nas vítimas.
Toda ousadia deve ser valorizada quando se trata de cinema nacional, e abraçar o gênero do horror como um dos seus caminhos é uma boa escolha para popularizar nossos filmes, por isso “Morto Não Fala” se adequa como uma boa porta de entrada para estes espectadores explorarem mais o cinema nacional.