Paris, Texas
10Pontuação geral
Votação do leitor 4 Votos
9.5

Onde ver: @petrabelasartes

Os planos gerais do brilhante diretor alemão Wim Wenders mesclados à cinematografia impecável do holandês Robby Müller convergem num dos maiores filmes da história do festival de Cannes (1984). Em “Paris, Texas”, observa-se uma aula de cinema. Roteiro, imagem e atuação fluem juntos. Temos uma obra de estrada, ou roadie movie, com uma análise filosófica sobre autoconhecimento e busca familiar.

Foi a vencedora da Palma de Ouro de 1984. A trama, numa pegada independente e um toque faroeste, segue um introspectivo Travis Handerson, que reluta para voltar ao lar, após perambular literalmente pelos desertos e estradas americanas por 4 anos sem maiores explicações. Mas suas motivações são densas. Intrigantes. Uma atuação excelente do silencioso, mas muito expressivo, Harry Dean Stanton.

Ao investir no resgate de sua família, Travis encara a dificuldade de tentar se relacionar uma outra vez com seu filho, agora com 8 anos. Há uma verdadeira odisseia para descobrir se o menino tem ou não uma mãe. Tudo nessa odisseia de dedicação reflete tristeza, desesperança, perdas e emoções variadas. O imaginário ativo do sonho americano não abraçou a família perdida de Travis; eis então a estrada e suas andanças provendo tudo que o capital não lhe deu ou que ele perdeu no seio da família perfeita.

O balé das cores primárias e quentes do fotógrafo Robby Müller é uma das paletas mais perfeitas do cinema. Sua foto e a trilha pontual abatida do guitarrista Ry Cooder (Buena Vista Social Club) lideram o triste protagonista pelos desertos até Houston, numa virada empolgante da trama. As cores fazem isso de maneira perfeita no intuito dar alguma satisfação a Travis.

No terceiro ato, as cores são mais frias, com Travis chegando ao topo de seu frio autoconhecimento. Talvez o amor material não tenha lugar naquela verdadeira melancolia familiar. Mas a mis-en-scène nos sugere a manifestação de um amor e de uma felicidade que jamais poderíamos suportar como Travis aguenta e como aprende a lidar. Wim Wenders nos guia mostrando de maneira crua como ser feliz.