O quinto volume da coleção “Cinema Policial” da distribuidora Versátil Home Vídeo, um dos lançamentos do catálogo de julho, traz quatro filmes do gênero em dois DVDs, quatro cards com cartazes dos filmes contidos no box e mais um material especial de extras, com trailers dos filmes e um especial com o diretor Walter Hill, que dirige um dos filmes, e uma entrevista com o ator Elliott Gould, presente em dois filmes deste box.

Os filmes que vêem neste box são:

  • “O Sócio do Silêncio” (The Silent Partner, 1978, 105min), de Daryl Duke
  • “Mãos Sujas Sobre a Cidade” (Busting, 1974, 92min), de Peter Hyams
  • “O Limite da Traição” (Extreme Prejudice, 1987, 105min), de Walter Hill
  • “Um Policial Acima da Lei” (Cop, 1988, 111min), de James B. Harris

O primeiro filme, “O Sócio do Silêncio” é um interessantíssimo exercício sobre manipulação de situações, jogos de aparências e ambiguidade humana a partir de um esquema de assalto que propicia um golpe maior e invisível caso não fosse planejado e executado por um ser humano, factível nas ações e nas avaliações, sejam de risco ou morais.

A cada personagem que entra na equação o jogo de gato e rato psicológico – e a cada ato mais perigoso – se adensa e as opções de saída diminuem para caminhos que não envolvam mentira, violência e morte, e o contraponto do volume monetário que move todo esse universo torna a trama ainda mais humana, logo mais interessante.

O trabalho de direção aqui é sutil, mas demarca bem sua proposta em cenas silenciosas (é interessante, muitas a partir do olhar de uma colega de trabalho do protagonista), em certos momentos da trilha sonora (evocando um certo clima hitchcockiano a cenas tensas), e mesmo no próprio elenco, onde Elliot Gould personifica bem a indefinição do que é realmente seu personagem, ou o ar de frieza e o olhar perigoso que Christopher Plummer emprega ao seu interessante antagonista.

Já o segundo, “Mãos Sujas Sobre a Cidade” (1974), que também é protagonizado por Elliott Gould, mostra como cinema policial dos anos 70 é único. O diretor Peter Hyams constrói um universo sujo e totalmente desesperançoso do sistema de justiça norte-americano neste painel que envolve dois policiais que trabalham disfarçados no departamento de Vícios no encalço perseverante contra um grande contraventor local.

O filme não esconde que todo o sistema é corrompido em todos os elemento formais em sua proposta de unidade estilística, que podem ser enxergadas por exemplo na cena da audiência preliminar dos travestis com o juiz em contraponto à mesma formalidade com uma prostituta de luxo que atende o cartel do contraventor que corrompe o poder judiciário, ou a postura de intermediário vaselina do superior dos dois detetives, sempre se vitimizando por não exercer seu poder de chefia contra quem efetivamente controla ele pela política macro.

A câmera ocupa muito bem seu papel nesta mise en scene, como se ela fugisse também do encalço dos policiais nas cenas de perseguição a suspeitos, demonstrando a incapacidade deles alcançarem seu objetivo idealizado de fazer justiça mesmo contra os mais fortes – e o desfecho corrobora com a atmosfera pessimista sobre todo o sistema, muito diferente da maioria dos filmes do gênero produzidos na mesma Hollywood.

No terceiro filme, “O Limite da Traição” (1987), o diretor Walter Hill transforma a fronteira com o México no sul dos EUA na sua cidadezinha de filme de faroeste, onde um ranger age como o xerife daquele trecho tomado por bandidos (mexicanos), e forasteiros (ex-soldados).

Se o elo entre o protagonista de Nick Nolte e seu amigo de infância/traficante de Powers Boothe nunca consegue trazer uma profundidade para o espectador embarcar nos conflitos daquela relação para além da disputa de uma mulher em comum, muito menos se dedica a expor melhor as contradições daqueles soldados em atividade secreta na localidade.

Na verdade o filme fica na superfície do exercício do gênero do faroeste através de uma trama policial básica, com argumento digno dos filmes de ação da década de 80 escrito por um dos melhores e maiores entusiastas deste estilo (John Milius).

O último filme da caixa, “Um Policial Acima da Lei” (1988), é um policial radical e anti-romântico, que usa do senso muito particular de praticidade no exercício profissional do protagonista na caça por um serial killer, onde vale tudo para achar o assassino, num rol de atrocidades que se justificam nos valores estabelecidos para este personagem no universo do filme, baseado na literatura policial de James Ellroy.

Pela personalidade e trejeitos, ninguém melhor que James Woods para encarnar esse sujeito, que rasga a lei, se aproveita da influência de colegas, flerta com depoentes e nada sente quanto ao afastamento da mãe e filha, que o abandonam – inclusive o diálogo entre ele e a menina definem bem seu perfil para o espectador.

O desfecho é coerente com este perfil, e a mensagem sobre a romantização da vida desde a infância ser prejudicial à sociedade se justifica, caso haja simpatia a esta leitura anárquica de comportamento social, mas o filme funciona minimamente e tem méritos em todo este estranhamento que causa com essa percepção distorcida de valores do protagonista.

Nos Extras da caixa, além de trailers, existe um bom material sobre a carreira do ótimo diretor Walter Hill, que realizou clássicos do gênero como “Caçador de Morte” (1978 – presente no primeiro volume desta coleção) e “48 Horas” (1982), e uma boa entrevista com o ator Elliott Gould sobre o primeiro filme desta caixa, “O Sócio do Silêncio”, com curiosidades e sua visão sobre o filme.

“O Sócio do Silêncio” (1978) – 9,5

“Mãos Sujas Sobre a Cidade” (1974) – 8,0

“O Limite da Traição” (1987) – 6,5

“Um Policial Acima da Lei” (1988) – 7,0

Média arredondada do produto: 8,0

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