Não é a primeira parada do diretor cazaquistanês Farkhat Sharipov na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Me deparei  anteriormente com seu trabalho através do longa metragem “18 Kilohertz, no qual ele discute o universo adolescente e o consumo de drogas no Cazaquistão.

Em “Scheme”, ele continua a desenvolver o assunto ao retratar a história de Masha, uma adolescente que se apaixona por Ram, um garoto descolado e popular, que organiza festas regadas a garotas, bebidas e drogas. Iludida com o interesse correspondido, ela não percebe que é manipulada para dentro de um esquema de aliciamento sexual de menores.

O diretor explora a desconexão geracional através do relacionamento de Masha e seus pais, que se recusam a engajar o diálogo necessário para lidar com as mudanças notáveis de sua filha adolescente, numa tentativa de preservação de uma infância finita. Já Masha, se aproveita disso para os manipular de acordo com suas necessidades. E obtém sucesso nesse jogo, o que garante a ela o falso status de controle e empoderamento, responsáveis pela anulação de qualquer senso de auto preservação.

Nesse sentido, o filme questiona os responsáveis pela alienação de uma juventude que tem a internet como berço educador. A escola, com sua total falta de didática; os pais, devotos à manutenção das projeções de si sobre seus filhos; a liquidez das relações advindas do convívio cibernético. Entretanto, nem mesmo boas sequências nas quais o diretor se utiliza de planos fechados e do tremor decorrente da câmera na mão são suficientes para nos inserir no universo relatado, nos garantindo o posto distanciado de meros espectadores, o que se reafirma através da conclusão rasa proposta ao filme que, de forma antagônica, acaba por validar as situações as quais se propõe a discutir.