ZONA DE INTERESSE, direção Jonathan Glazer
7.5Pontuação geral
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9.6

Desde sua estreia em festivais de cinema pelo mundo, o filme dirigido por Jonathan Glazer vem chamando a atenção da crítica e do público.

A história é baseada em fatos reais e retrata a rotina da família Höss, chefiada pelo comandante do campo de concentração de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig Höss. A família morava extremamente próxima de um dos campos de concentração de Auschwitz, em que ficavam as câmaras de gás e o crematório.

A história foi retratada em um livro de mesmo nome, escrito por Martin Amis, que descrevia a “Zona de Interesse”, como era chamada a locação em que se concentrava a moradia da família do comandante, executado em 1947.

Em uma pesquisa rápida no Google, é possível inclusive encontrar trechos do livro com depoimento real do comandante Höss, exaltando a boa vida que tiveram durante o tempo em que residiram na Zona de Interesse. Ou seja, uma história absurda que fala por si.

Entretanto, quando falamos de um tema como holocausto, não é bem assim. O holocausto foi e é incansavelmente retratado pelo cinema, sob diversos focos. Retratar e lembrar para que a história não se repita é fundamental, mas para que a proposta não se encerre em si mesma, é necessário o avanço da discussão.

O filme de Glazer é extrema e ininterruptamente incomodante.

Através de tomadas longas, câmera fixa, tempos dilatados, o caos hediondo se contrapõe à banalidade da vida das personagens da família Höss.

A ambientação é praticamente insuportável: sonorização de bombas, choro de bebês e gritos, que se somam a imagens que não mostram o campo de concentração em si, mas que o presentificam implacavelmente através de fumaças e descrições dos planejamentos de operação das câmaras de gás e retirada de cinzas.

Durante todo o tempo, os personagens são mantidos afastados do espectador e tratados de forma polida, exceto por pequenos escapes de humanidade, como a frustração de Hedwig ao ver que sua mãe não conseguiu permanecer no ambiente e compactuar com o cenário de morbidez; o caso extraconjugal do comandante, que lava seu órgão genital pós coito para se purificar para seu retorno à família. Todo e qualquer resquício de humanidade é pincelado, apenas, reforçando como o nazismo transformou pessoas aparentemente comuns em genocidas.

É a banalidade do mal, conceito aplicado diretamente ao nazismo por diversos estudiosos, em que o indivíduo deixa de exercitar a reflexão, se desconectando, portanto, do sentido das coisas, de forma que violência, agressividade e a barbárie são normalizadas.

Mas para que haja essa reflexão, devemos nos concentrar em uma questão:  a moral. E é justamente neste aspecto que se concentra esta crítica. Jonathan Glazer conduz sua história através da banalidade, da imoralidade de suas personagens.

Justiça seja feita, há pequenos respiros de resistência, como a menina que coloca as maçãs e as reações das empregadas da casa, que trabalham sob constantes ameaças, mas ainda assim, é muito pouco perto da banalidade avassaladora que predomina o contexto.

E a provocação aqui é no sentido de que há de se avançar na crítica social para que a questão caminhe para além do revisionismo histórico.

Nesse sentido, Glazer deixa exclusivamente a cargo do espectador, dentro de sua disponibilidade emocional, moral e social, relacionar o que foi visto aos tempos atuais, em que a banalidade é regente de ações, reações, guerras e genocídios injustificáveis, aos quais o mundo assiste sem intervenções e/ou com intervenções políticas e pontuais, vide os conflitos entre Rússia x Ucrânia e Israel x Palestina.

Dentro disso, o filme falta. Mais do que destacar, retratar, falta em aprofundar uma discussão de tamanha atualidade. E nessa falta, são 1h46min de incômodo, para dizer o mínimo.

Os pontos de destaque do filme são, sem sombra de dúvidas, o trabalho de som coordenado por Maximilian Behrens e a construção da atriz Sandra Hüller, que desde “Anatomia de uma Queda”, vem mostrando personagens dotadas de muitas camadas, solidificadas e complexas. Ambos os trabalhos compõem o carro chefe da reverberação assombrosa de um período que ainda se presentifica de forma pulsante.

Assista ao trailer:

ZONA DE INTERESSE | Trailer Oficial Legendado

Com direção de Jonathan Glazer, ZONA DE INTERESSE é um retrato impactante de uma família nazista vivendo nas proximidades de Auschwitz. No filme, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente bucólica em uma casa com um jardim ao lado do campo de concentração.