Só Garotos ("Just Kids") - Patti Smith
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Quando este site foi lançado, um dos idealizadores me convidou para colaborar com resenhas, mas venho enrolando, hehe. Até que ontem sonhei com Patti Smith me mandando uma mensagem: write. Depois de uma dessas, não tinha como não sentar e escrever a tal resenha prometida – no caso, sobre sua autobiografia “Só Garotos” (“Just Kids” no original), lançada em 2010 pela Companhia das Letras.

Além desse motivo poético, bem a cara da homenageada, existem os factuais. Em novembro, vamos receber Patti pela primeira vez no Brasil, no Festival Popload. Para comemorar sua vinda, a editora acaba de anunciar o lançamento de mais dois livros dela este ano: “O ano do macaco” e “Devoção”. Mas antes de irem ao show ou lerem suas outras obras, para aqueles que amam música e/ou simplesmente boas histórias, recomendo muito a leitura dessa pérola.

“Só Garotos” não é uma autobiografia comum. O coração do livro é a sua história com o fotógrafo Robert Mapplethorpe e como o relacionamento dos dois aflorou em ambos a expressão artística que tanto buscavam. É impossível não ficar apaixonado pelo casal através da narrativa sensível e poética de Patti – todos os acontecimentos são cheios de coincidências e sincronicidades (como meu sonho), tornando a história ainda mais fantástica.

Todos os fatos parecem saídos de um filme: dos primeiros encontros dos dois até o fato de terem ido morar no Chelsea Hotel e convivido com figuras como Lou Reed, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Iggy Pop, Andy Warhol, entre muitos outros. Casos incríveis para quem gosta deste período efervescente da contracultura.

Apesar dos nomes famosos, nada é contato de forma deslumbrada, até porque a realidade de um Estados Unidos bem longe do “sonho americano” batia à porta. Patti e Robert moraram na rua, passaram fome. Mas nem por isso desistiram de tentar de alguma forma expressar o que os movia, seja pela pintura, colagens, fotografia, poesia ou música. Um alimentando o outro com incentivo e inspiração, muito além de um relacionamento amoroso comum, mas uma simbiose de fazer até o menos romântico dos seres desejar algo igual ao menos uma vez na vida.

Sua narrativa é simples e espontânea, mesmo nos momentos mais tristes de afastamentos e perdas. Como a própria Patti me respondeu um dia que comentei uma foto sua no Instagram: “In these difficult times stay healthy, be yourself, continue your studies, your daily tasks. Allow yourself to feel joy”. Acho que é justamente essa magia nas coisas simples, porém muito significativas que fazem dela uma pessoa que inspirou e inspira ainda tanta gente, de astros como Bruce Springsteen até meras fãs como eu. Para tempos difíceis para os sonhadores como o nosso, Patti Smith e “Só Garotos” são como um abraço.