“ POWER RANGERS: AGORA E SEMPRE” (2023), de Charlie Haskell
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6.7

Onde: Netflix

Quase 30 anos após ser aprisionada em um lixão, a vilã interplanetária Rita Repulsa retorna à Terra para se vingar e matar aqueles que acabaram com o seu reinado maligno. Após a malvada conseguir matar um deles e aprisionar outros, os superheróis responsáveis por proteger o planeta precisam se juntar para combater as forças do mal mais uma vez. Esse é o enredo de “Power Rangers: Agora e Sempre”, especial que a Netflix lançou para os fãs da série que conquistou crianças nos anos 90.

Se existe uma plataforma que gosta de apostar em nostalgia, essa plataforma é a Netflix. Enquanto a HBO Max preferiu focar no terreno do documentário para reunir os astros de Friends e da franquia Harry Potter (em parte pela relutância dos elencos originais de se envolverem em novas histórias), o streaming mais popular do mundo não se acanha em usar os dados de preferência dos seus usuários mais assíduos para criar novos enredos capazes de capitalizar com a onda saudosista, em especial da geração de Millennials.

O esforço é válido em dar ao público o que eles pedem e não há necessariamente nada de errado em reciclar algo que deu certo. O problema é apostar em uma ideia fácil em detrimento de sua qualidade. Originalmente, a série foi viabilizada como uma forma de criar um programa de ação com baixo orçamento, mantendo as cenas de luta de um seriado japonês e contratando atores novatos para cuidar do resto. Mas o sucesso inesperado, que transformou o programa em um fenômeno mundial, deu origem a uma franquia milionária que dura até os dias de hoje e, portanto, não justifica a decisão da Netflix de economizar a ponto do especial, que dura menos de uma hora, ficar com cara de um episódio inédito esquecido em alguma prateleira.

Claro que a Netflix não é boba e sabia que poderia gastar pouco e satisfazer a maior parte da legião de fãs que iria assistir de qualquer forma – e muitos gostaram. Mas se olharmos para os filme de 1995 e o reboot de 2017, é fácil observar a oportunidade perdida de dar um upgrade na série original enquanto conta com os personagens mais marcantes. A começar pelo roteiro, extremamente preguiçoso e que nem se preocupou em explicar um ponto básico do enredo: os personagens da primeira temporada precisam da ajuda daqueles que os substituíram nas temporadas posteriores. Mas se os originais ainda são os Power Rangers depois de décadas, Kat, Rocky, Aisha e Adam não deveriam existir. Simplesmente não faz sentido.

A ideia de só trazer atores originais e não substituir nenhum dos que morreram (como os intérpretes de Tommy, Zordon e Rita) foi interessante e respeitosa. E a homenagem à personagem Trini (cuja atriz morreu em um acidente de carro pouco depois de deixar a série) é o ponto alto do filme, que também traz diversos Easter Eggs escondidos, fazendo alusão a personagens da época e outras equipes de Rangers. Mas o fato de o roteiro se levar extremamente a sério é outra oportunidade perdida, com as atuações sofríveis dos atores originais e que não conseguem ser salvas nem pela novata Charlie Kersh – ela interpreta Mihn, filha de Trini, mas que parece ter sido escolhida pela flexibilidade de levantar a perna o suficiente e não pela habilidade como atriz. Curiosamente, Walter Jones, o Zac, apesar de ter sido o primeiro ator desse grupo a abandonar o programa nos anos 90, é o que chega mais perto de uma interpretação aceitável.

Com os atores visivelmente mais velhos, o especial decidiu ignorar os problemas óbvios ao invés de assumir que o tempo passou. Até mesmo a homenagem final, que poderia funcionar perfeitamente como o ápice do filme, fica totalmente perdida e mais parece uma reflexão tardia, colocada para que os eventos da vida real não passassem em branco. Como um exemplar nostálgico vazio, o especial funciona – basta ver a nota altíssima dada pelos fãs originais da séries, satisfeitos com as memórias que ele trouxe. Mas para aqueles que ainda sonhavam com uma atualização decente e duradoura, só fica a imagem do potencial desperdiçado.