Onde Assistir: HBO, HBO GO
7.5Nota da Hybrido
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Reconheço que não parece muito oportuno recomendar um drama como esse em meio a uma pandemia mundial. São tantas as tragédias pessoais retratadas em I Know This Much is True que a expressão “arco dramático” aqui poderia ganhar uma interpretação literal. Durante as seis horas da minissérie (seis episódios de aproximadamente 60 minutos cada) eu não me lembro de ter dado uma risada sequer. É uma experiência pesada, definitivamente.

Dirigida e adaptada para a TV por Derek Cianfrance (Blue Valentine), I Know This Much is True (baseada no romance homônimo de Wally Lamb e cujo título saiu da famosa canção do Spandau Ballet) foi toda filmada em 35mm e conta a história de Dominick Birdsey e seu irmão gêmeo Thomas, ambos vividos por Mark Ruffalo. O ator me ganhou apenas em 2013 com o longa “Mesmo Se Nada Der Certo” e desde então tenho tido mais boa vontade com as suas interpretações fora do Universo Marvel. Nesta minisserie exibida pela HBO entre maio de junho de 2020, Mark Ruffalo definitivamente arrancou meus aplausos. Thomas é visivelmente atormentado por sua esquizofrenia paranóica, tem os olhos confusos e a postura arcada com o peso que carrega aquele que acredita poder salvar o mundo de uma guerra iminente. Já Dominick é sensível ainda que revoltado, comprometido e cansado, culpado e um tanto auto-apiedado ou ressentido, mas que luta dia após dia para ser uma pessoa simplesmente decente. 

Elenco perfeito

Mark Ruffalo – que tem no assassinato de seu irmão o seu próprio drama pessoal – não brilha sozinho. O forte da obra é justamente o elenco. A despeito de todo o drama pessoal de Dominick que absorve toda a energia da trama, o encaixe do elenco com seus respectivos personagens é fascinante. Juliette Lewis, por exemplo, é Nedra Frank, uma acadêmica tagarela e imprevisível; o olhar terno de Archie Panjabi é perfeito para a atenciosa e prestativa psicanalista Dra. Patel; e Rosie O’Donnell constrói uma irretocavelmente realista assistente social para Lisa Sheffer. Ponto para Derek Cianfrance, que deixa os atores trabalharem.

O drama dos gêmeos se passa numa pequenina cidade de Connecticut, retratada por uma fotografia propositadamente densa e obscura. A esquizofrenia de Thomas o leva a um episódio que choca os habitantes da cidade (uma cena de violência grotesca porém pertinente logo no primeiro episódio) e ele se vê transferido de um hospital psiquiátrico para uma prisão comum. Na luta de Dominick para tirá-lo da prisão, a história dos gêmeos se revela em flashbacks narrados pelo próprio Dominick, que nos despeja sem dó toda a sua sequência de desventuras: o câncer da mãe, um divórcio difícil do amor de adolescência, o ódio sufocado pelo padrasto, a frustração por não conhecer seu pai biológico. Tudo isso tendo que cuidar do irmão e de alguns acidentes (literalmente) de percurso.

“Desventuras em Série”

Numa trama onde as tragédias são as protagonistas, o roteiro não precisa se valer de muita profundidade. Os recursos de flashback são bem conduzidos e talvez apenas a subtrama do avô siciliano tenha sido um excesso e poderia ser citada em vez de dramatizada. Mas os diálogos realistas funcionam bem, combinam com a atmosfera criada pela fotografia e permitem que as atuações ganhem destaque. Uma das poucas pérolas do roteiro: os gêmeos nasceram com dois minutos de diferença, o suficiente para fazer com que cada um nascesse num ano diferente. Acreditem, isso ainda acrescenta mais um drama para a história.

Os diálogos extremamente realistas, a fotografia pesada e a sequência de tragédias pessoais podem fazer parecer que as seis horas do drama são intermináveis. A obra é tecnicamente perfeita, com escolhas bem conduzidas na narrativa, mas o realismo talvez seja excessivo para a atualidade e nem o último episódio muito bem executado consegue nos dar um alento depois de tanto sofrimento. No fim, se alguma recomendação é possível, talvez seja porque tanto drama acaba por fazer com que nos sintamos bem com a nossa dura vida como ela é, com pandemia e tudo.