"Bodies Bodies Bodies" (2022), de Halina Reijn
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8.8

Cinemas: estreia em outubro

Alguns dos filmes mais interessantes de 2022 têm as mesmas características de Bodies Bodies Bodies: suspense/terror e lançados com o selo de uma produtora “de filmes menores”. Foi assim com Fresh, da Fox Searchlight, e com X – A Marca da Morte, da A24. Além disso, todos os três filmes transitam pelo gênero trazendo uma alta dose de sarcasmo, críticas pertinentes ao mundo atual e um apuro técnico diferenciado. A verdade é que os melhores filmes de suspense/terror dos últimos anos trazem esse toque a mais, que tiram eles do filão que tem lugar cativo nas salas de cinema todos os anos.

Os filmes de James Wan são um exemplo perfeito de que uma ideia original pode mudar o gênero. Foi assim com o primeiro Jogos Mortais (lá em 2004!), Sobrenatural e Invocação do Mal. Os três são, inclusive, também bons exemplares de que, repetir a ideia em continuações ou derivados não garante a qualidade da ideia primária. Outros bons exemplos de como o gênero pode transitar dentro de temáticas diversas são: Corra!, A Lenda de Candyman, Maligno, A Bruxa, Corrente do Mal, Hereditário e Invasão Zumbi.

Bodies Bodies Bodies é mais um desses filmes que pega os conceitos clássicos do terror e cria algo original em cima. Aqui, misturando o terror de cabana, com o “whodunit” – ou “quem matou?” – e um estilo de comédia ácida, parecida com a que vemos em shows de stand up, para criticar o comportamento tóxico e abusivo da nova geração, principalmente na internet.

Se pensarmos em todo o cenário da situação que os personagens se encontram, ele é uma grande metáfora sobre esse comportamento: jovens trancafiados dentro de uma mansão, com a liberdade para fazerem e dizerem o que quiserem, com uma pseudo simpatia por diversidades e agendas, mas que estão presos no ambiente (ou se deixaram prender?) devido uma tempestade que os impede de deixar o conforto. Nesse meio tempo, acusações, abusos, preconceitos e cancelamentos vão acontecendo até que, a partir de um assassinato, tudo degringola. Ou seja, um dia comum no Twitter.

Se toda essa construção do roteiro, com ótimas piadas e diálogos, já são mais do que suficientes para o filme funcionar, Bodies Bodies Bodies tem um elenco afiadíssimo, que segura bem o ritmo durante os pouco mais de 90 minutos – um luxo atualmente. Maria Bakalova mostra que Borat 2 não foi um ponto fora da curva e acerta em cheio na “forasteira” que entra de gaiata na festa do grupo de amigos. Já Myha’la Herrold transmite um senso de tensão desde o primeiro frame em que aparece. Todo o grupo é excelente e cativa por suas particularidades, mas Lee Pace e Pete Davidson são a cereja do bolo. O filme aliás tem a cara dos comentários e piadas que Davidson costuma fazer em seus shows ou quando participava do Saturday Night Live.

Bodies Bodies Bodies entrega tensão, crítica social e sangue. A comédia, a fotografia, o elenco carismático e a trilha sonora escolhida com perfeição são o a mais que tornam o filme um dos mais divertidos do ano.