“Aranha” (2021), de Andrés Wood
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Em Aranha, o diretor Andrés Wood retoma a discussão iniciada em Machuca (Netflix), usando como base narrativa o período pré e pós ditadura militar chilena, que foi instaurada a partir do golpe de Estado organizado e liderado por Augusto Pinochet em 1973, face ao Governo do então presidente Salvador Allende, eleito em 1970.

O principal grupo de extrema-direita se autodenominava Frente Nacionalista Patria y Libertad – cujo símbolo era uma Aranha (justifica o nome do filme) e praticava atos terroristas contra os apoiadores do Governo, na época. A situação no país se agravou com o golpe de 1973. O Chile permaneceu em Regime Ditatorial até 1990 e esse período ficou marcado pela censura e pela violência, com a tortura, morte e desaparecimento de milhares de chilenos.

Essa introdução histórica, apesar de facilmente pesquisável, se faz imprescindível para encarar o proposto por Andrés Wood, uma vez que o diretor se utiliza deste cenário para explorar a relação do trio de personagens centrais, participantes fervorosos na formação do grupo Patria y Liberdad. Num paralelo concomitante entre passado e presente, acompanhamos a formação do trio, que, apesar do lado sentimental da relação, se une e separa por princípios ideológicos.

Quarenta anos após o rompimento do trio, um deles, por motivação política, comete um crime, é preso e seu sangrento passado é revelado. Com medo de terem seus passados expostos, seus ex-comparsas – no presente, transformados em renomadas personas da alta sociedade chilena – farão de tudo para que o caso seja encerrado. Sem grande relevância no que diz respeito à técnica cinematográfica, é inegável o talento do diretor em estabelecer o paralelo histórico entre passado e suas inevitáveis reverberações no presente e ainda abordar o tema com abrangência suficiente e passível de identificação, frisando e alertando acerca do perigo iminente ao qual estamos submetidos, com tentativas de retorno de um passado abominável.

A partir do contexto histórico chileno, temos uma análise sociocultural generalizada, na qual o diretor se posiciona claramente e provoca o espectador a observar um círculo vicioso comportamental, por meio da conexão entre a extrema-direita do passado com uma atual – mundial – dotada de valores racistas, xenófobos e maquiados por um pretenso neoliberalismo. Em Aranha, a história sobressai a pretensão artística, sem que isso prejudique a qualidade final da produção.