“Belfast” (2021), de Kenneth Branagh
9Pontuação geral
Nele, acompanhamos Buddy, interpretado com um show de carisma de Jude Hill, uma criança na Belfast de 1969, no meio dos conflitos da Irlanda do Norte entre católicos e protestantes, além dos problemas da família e, claro, as inquietações da própria infância. O que poderia ser mais um Jojo Rabbit (que também é ótimo, diga-se), acaba como uma carta de amor de Branagh à família. E isso não é à toa. O filme é uma obra semi-autobiográfica da infância do diretor.
Se o roteiro não é lá tão original, é na direção, fotografia e nas atuações, que Belfast cresce e deve estar entre os principais indicados das premiações desse ano. Além de Jude Hill, brilham ainda Ciarán Hinds (apostaria dinheiro que ele vem para ator coadjuvante) e Judi Dench, como os avós de Buddy, e também Caitríona Balfe, a mãe, e Jamie Dornan, como o pai.
Praticamente todo fotografado em preto e branco, Belfast é um grande trabalho de direção. Branagh, mestre do teatro e das adaptações de Shakespeare, trabalha o filme com diversos enquadramentos que lembram uma peça, emoldurando os atores em janelas e portas, as vezes até mais de uma no mesmo frame. Já do lado de fora da casa de Buddy, o diretor escolhe passear com a câmera pelos personagens do bairro e prova que não precisa de centena de figurantes para criar uma guerra na rua. Cenas como a abertura do filme, a última cena de Buddy e o avô e a de Dornan cantando e Caitríona dançando, estão entre as melhores do ano.
Um dos detalhes mais legais do filme é como a arte, que se tornou a vida de Branagh, é o único elemento que colore o filme. A cena do reflexo nos óculos de Judi Dench é de encher o coração. Belfast no final das contas é sobre o amor. O amor de Buddy pela família, pelo lugar onde vive, da mãe dele pelos filhos, dos avós pelos netos e do diretor por aquilo que o trouxe até aqui.