A diretora escocesa Lynne Ramsay nos choca nisso que eu chamo de um ensaio sobre maldade. Ela narra aqui a relação absurdamente problemática entre Eva e seu filho Kevin. O roteiro foi criado pela própria Ramsay e por Rory Kinnear, baseado no romance de Lionel Shriver (2003). O incrível par formado por Tilda Swinton e Ezra Miller (às vezes Swinton e Jasper Newell, quando ele faz o Kevin criança) nos brinda com uma relação tão fora de sincronia e tão gélida, mas ao mesmo tempo tão necessária para nossos dias. Forte. Cada aparição de mãe e filho nos faz querer tomar uma atitude e talvez entrar na tela de vez para corrigir asperamente o filho ou sacudir aquela mãe de alguma forma. Como se soubéssemos o que fazer.
O uso abusivo de cores vermelhas junto a uma música impactante anunciam que o pior está por vir o tempo todo em tela (combinação que não é considerada um clichê – palmas pra trilha). A desorganização no uso do recurso conhecido como flashbacks mostra que a diretora manipula tudo da melhor maneira possível a fim de embaralhar nossa mente no intuito inútil de tentar salvar aquela família do feito horrendo que se avizinhava. Ramsay traceja para que possamos sentir todo o impacto e estranheza que aquelas atitudes e atuações causam. A família Khatchadourian vai se destruindo aos poucos por meio da maldade pura de Kevin, da leniência de seu pai – Jhon C. Reilly, da confusão de sua irmãzinha (Ashley Gerasimovich) e, claro, pelo desespero, culpa exacerbada e frustração da mãe.
Ao lado das crueldades gratuitas de Kevin, o filme assusta por não ter uma profundidade. Não sabemos quem erra na criação da criança. E nem quando ele se torna mau. Ao que se constata, Kevin segue de maneira linear o filme todo desde seu choroso nascimento: sendo um ser odioso. A diretora dirige nossa mente sempre para o pior. E observamos a desconstrução de Eva – indiferente e cerebral – tendo sempre uma pontada de esperança em ser realmente uma mãe e em tentar buscar uma afeição inexistente com o pequeno monstro. Noutras horas vimos seu sufoco ao querer largar tudo e partir para uma viagem à França, como a mesma pontua desesperadamente. Ela o define bem ao analisar ali de perto um menino de olhar cheio de cinismo que a odeia ao mesmo passo que manipula seu apagado pai e sua confusa irmã.
Em meio aos atos ardilosos do menino Kevin – em que assistimos à construção sua perversão – vê-se pouco a pouco que talvez fosse a mãe a melhor possível nada resgataria o comportamento daquele ser. Senti falta de um aprofundamento no roteiro no âmbito do desfecho do filme. Precisamos falar sobre o Kevin é atual e faz com que desejemos sempre tratar nossos filhos da melhor maneira existente. Mas será que existe tal fórmula para não se ter um Kevin dentro de casa?
Como ver: alugue na Cavídeo