*Crédito de imagem: Victor Jucá
A ideia do documentário “Quando falta o ar” partiu da rotina da própria diretora, Helena Petta, médica de formação, que acompanhava a pandemia de Covid-19 de perto, através dos relatos de profissionais e colegas de profissão. Diante da gravidade dos relatos, Helena se juntou com sua irmã, a atriz e diretora Ana Petta, para retratarem de forma imersa os acontecimentos catastróficos.
De outubro de 2020 a janeiro de 2021, as diretoras acompanharam a rotina de médicos, enfermeiros, agentes sanitários, agentes funerários, todos atuantes da linha de frente de uma pandemia que tirou a vida de mais de 179 mil pessoas somente no Brasil.
Junto com as diretoras, somos convidados a testemunhar uma difícil realidade, que se desenrola através de uma câmera crua, reduzida à sua função primária de captadora, sem qualquer interferência. Os diálogos se desenrolam da mesma forma, e quando direcionados para nós, espectadores, acontecem majoritariamente em off.
As irmãs partem da documentação do macro de uma das maiores crises sanitárias mundiais para a apresentação de um recorte íntimo, humanizado através das figuras dos profissionais do SUS – Sistema público de saúde – que, apesar de todas as dificuldades e restrições de isolamento, não paralisaram o atendimento, principalmente em áreas mais isoladas.
Apesar de soar meramente estatístico, o documentário consegue fugir desta classificação ao se desmembrar sobre duas realidades catastróficas – o caos regido pela aleatoriedade e voracidade de um vírus desconhecido – e o caos derivado do descaso consciente de políticas públicas e investimentos sanitários.
“A pandemia é mais um medo de morrer dentre tantos outros que o povo brasileiro pobre já vive em suas pandemias anteriores há muito tempo”.
Essa fala escancara a desmensurada desigualdade econômica que rege nosso país. A falta de investimento em serviços públicos, saúde e educação foi determinante para o agravamento das consequências sociais decorrentes da pandemia.
População de baixa renda, presidiários submetidos a condições desumanas, grupos étnicos e raciais, como negros, indígenas e quilombolas foram e são desmedidamente prejudicados.
Como espectadores, somos impactados pela iniquidade dos acontecimentos e para tanto, não há necessidade do emprego de mirabolantes propostas narrativas, já que a realidade por si é cruel e chocante o suficiente.
Por fim, “Quando Falta o ar”, restabelece com êxito a vital importância do Sistema público de saúde, concedendo ao mesmo o merecido e incontestável crédito de sua serventia, e restabelece ainda a dignidade à vida e à pessoa humana, direitos fundamentais garantidos por nossa Constituição Federal e criminalmente usurpados pelo Governo atuante à época dos fatos.
Documentário difícil, mas de extrema importância como material histórico e estimulador de debates futuros, para que a criação de novas propostas e políticas públicas sejam conjuntamente debatidas e formuladas, e servindo ainda de alerta a todos nós, individual e coletivamente, para evitarmos que a história se repita.
Ficha técnica:
QUANDO FALTA O AR
Brasil, 2022, 81 min.
Direção: Ana Petta e Helena Petta
Produção: Paranoid
Produtores: Manoel Rangel, Pedro Betti, Egisto Betti, Heitor Dhalia
Produção Executiva: Miguel Lago, Arthur Aguillar e Thiago Franco
Direção de Produção: Thiago Franco
Roteiro: Ana Petta, Helena Petta e Paulo Celestino
Direção de Fotografia: Léo Bittencourt
Montagem: Paulo Celestino
Cor: Luisa Cavanagh
Desenho de Som e Mixagem: Edson Secco
Som Direto: Marina Bruno
Quando Falta o Ar (TRAILER)
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