“Yellowjackets” é uma série que se apresenta na premissa como mais uma que lida com a equação “acidente aéreo – local inóspito – dupla linha temporal – pessoas adultas com traumas desta experiência”, mas ao longo da experiência de sua primeira temporada demonstra ter uma pegada particular em termos de visceralidade e na encenação fantasmagórica e um tanto misticista do que significa aquele um ano e meio que as jovens viveram naquela floresta.
Ler o nome da cineasta Karyn Kusama entre os produtores, e dirigindo o episódio-piloto, dá algum selo de autenticidade em termos dessa encenação, tendo em vista seu bom trabalho no filme “O Convite” (2015) nesse tipo de construção orgânica em termos de ocultismo, e o arco dramático acerta ao apostar num cenário de “O Senhor das Moscas” intrincado, envolvendo meninas ao invés de meninos, e sendo um espaço isolado e não exatamente uma ilha, como na obra literária.
Apesar do centro de todo o mistério da trama estar ligado ao passado, o presente envolvendo quatro personagens bem específicas na sua idade madura torna a profundidade dramática bem peculiar, onde cada uma carrega as consequências daquele um ano e meio isoladas do mundo de uma forma diferente, e reagindo subconscientemente da mesma forma visceral em que foram impelidas a agir pela sobrevivẽncia naquele período específico de seu passado.
O elenco maduro muito bem selecionado, por atrizes muito subestimadas frente ao seu talento (especialmente Melanie Lynskey, Juliette Lewis e Cristina Ricci) apóia muito bem o background que o elenco mais jovem origina nas cenas do passado, e conduz bem aquela atmosfera sinistra, misteriosa e um tanto caótica de meninas que ultrapassaram limites pela sobrevivência – e continuam testando esses limites na sequência de suas vidas adultas, de diferentes formas. É o terror moderno onde às vezes a vida normal é mais assustadora que a pior das tragédias.