“Thor: Amor e Trovão” (2022), de Taika Waititi 
5.5Pontuação geral
Votação do leitor 7 Votos
7.6

Onde: Cinemas

 

O bom produto criado pelo universo da Marvel é seu público fiel. Indiscutível. Alguns diretores se destacam de fato nesta atmosfera e aqui na quarta história da saga do Deus Nórdico a vez foi de Taika Waititi cravar seu nome diante da sua legião de fãs. Esta é sua segunda direção junto ao famoso estúdio MCU, já que traz consigo o fato de ter dirigido o sucesso “Thor: Ragnarok” (2017): o mais marcante dos 4. Sendo assim, a missão foi mais fácil. Com 1h59, eis aqui o filme mais curto da Marvel desde “O homem formiga” (2015). Formulaico e exagerado certamente. Taika foi no piloto automático ao apresentar uma obra que não surpreende, não propõe algum tipo de discussão para fora da tela (mesmo tendo a chance, sem spoiler) e que vai e deve ser taxada como comédia romântica por boa parte do longa.

A montagem enxuta e bem concatenada permite termos uma obra de fácil entendimento, mas que não exige muito do espectador, não busca uma interação maior com o público em geral. Diverte? Vai depender do público. Eu mesmo não cheguei a rir das diversas piadas da primeira parte do filme. Algumas bem infantis. Bobas. Há um momento em que meu relógio apontavam 45 minutos de película e já tínhamos no roteiro pelo menos 10 piadas. Exaustão e cansaço. Fato que Waititi estava jogando em casa para seu público. Mas isso pode sim afastar sua conexão inicial e tornar a gramática do filme pobre. Vale dizer que os trailers sempre foram entreguistas, quase que contando o filme inteiro. A obra segue como se não houvesse novidade a ser mostrada.

Por mais que Valquíria (Tessa Thompson) e Jane Foster (Natalie Portman) tentem comandar o show com seus diálogos, arcos dramáticos, poderes e boas cenas de luta, o filme é todo do Thor (Chris Hemsworth). Em “Ragnarok”, vale lembrar, ele dividiu a tela bastante com a própria Tessa (lá mais poderosa que aqui) e com o Hulk de Mark Ruffalo. Chris, pra variar, segue confortável como o Deus do trovão. Vale dizer, de novo, que boa parte do diálogo destes 3 citados é o alicerce das piadas já mencionadas. Infelizmente, a ótima reflexão existencial do Thor de outrora já não está mais aqui. Um adendo inexplicável: a ponta que Matt Damon faz (mais piada) é totalmente descartável.

 

Amor e Trovão 

 

Neste 4º filme de Thor, seguimos os eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019), tendo um Thor resiliente e afastado de confusão entre deuses. Como dito, essa reflexão aqui é curta e não se aprofunda, mas funciona como uma das poucas boas piadas do Taika. Porém, Thor abandona essa calmaria quando o bom vilão Gorr – o carniceiro dos deuses – tem um desilusão divinal frustrante e aterrorizante, partindo daí para executar seu plano maior: aniquilar todos os deuses possíveis da galáxia. Eis aqui uma bela motivação para o bom vilão de Christian Bale. Ele rouba a cena com suas falas, sotaques, traumas e maneirismos de quem crê cegamente e que o deixam pavoroso. Você consegue entender o que ele pretende.

Por alguns breves momentos, conseguimos extrair de Taika uma das maiores discussões propostas pelo filme. A única talvez. O ensaio de Gorr sobre a religiosidade é bom de se ver e rende bela reflexão de fato. Assertivamente, pode-se dizer. A decepção divinal estampada na cara dele e seus questionamentos para com os seres superiores são algo que vemos na nossa vida mundana: quando ele súplica algo e não é atendido. Destrói sua essência e âmago. O suficiente para uma vingança contra os deuses. Vale dizer que a MCU fez bons vilões também.

Como essa resiliência dura pouco, Thor monta seu time com Valquíria, Korg e sua ex-namorada Jane Foster, a cientista. Aqui ela vai ser a Poderosa Thor. Sim, ela está de volta. E, neste 29º filme da MCU, podemos observar alguns trechos bons sim. Por mais que o Thor do Chris se destaque inteiramente, aquilo que é reservado ao arco da cientista Foster e a forma como seu caminho cruza com o de Thor novamente é satisfatório e deveria ser melhor aproveitado. Seu maior obstáculo ao ser exposto consegue a tal conexão emotiva que não temos na primeira parte da obra por parte dos “mocinhos”. O que é bem explorado com os antagonismos de Gorr, é deixado de lado com Jane Foster.

 

Planos errados e estilo Taika

 

Ao perseguir o escondido Gorr, a trupe de Thor deve pedir auxílio aos deuses do Olimpo. Eis aqui algo que pode dividir bastante o público. Há desnecessários nudes e diálogos expositivos. De novo, a luta coreografada sobressai. É um pouco mais de Taika conversando com seu público. Mas tal pedido de ajuda falha e a briga que se vê em Asgard coloca Zeus completamente mal aproveitado, como se fosse uma figura fraca. Russel Crowe é Zeus. E sim, parece que ele parou no tempo e não consegue ser versátil em seus personagens. O sotaque é decadente. Seu Zeus é um desastre. 

Quanto ao estilo, neste “Amor e Trovão” seguimos a já conhecida comunicação visual do Taika Waititi, com seu CGI de muitas cores primárias e secundárias dando uma assinatura firme à obra. É vistoso, com muita textura, e passa a noção perfeita da pompa dos grandes cenários nórdicos, asgardianos e espaciais. As batalhas também estão fatalmente caprichadas em suas coreografias. E não são intermináveis (né, DC? Que fique claro que gosto de muita coisa da DC). Destaque para a montagem e trilha sonora que conseguem conectar músicas clássicas da banda norte-americana de hard rock, Guns ‘n’ Roses, ao ritmo e introdução de cenas de ação. É como se Axl Rose (vocalista) pudesse, de maneira “diegética”, dizer ao Thor o quê, como e quando fazer! Não fossem as lutas, a trilha, as cores pomposas e o arco de Gorr, que de fato sim salvam a produção; seguiríamos esperando a próxima piada. Ou qual seria o momento em que Thor faria a piada.

Obviamente seremos catapultados ao quinto filme. As duas cenas pós-créditos vibram ao introduzir novos conflitos. Thor versus quem? O aficionado espectador, que vibrou também, já poderia imaginar. Fácil previsibilidade. Zeus ao menos funcionou como “cliffhanger”, aquele instante em que vai ser garantida qual seria a sequência deste universo tão saturado. Fato é que nesta fase 4 da Marvel, de muita homenagem, carinho no fã de carteirinha e pouca criatividade ou pouca discussão, destacamos realmente apenas “Shang-Chi” (2021) e suas referências à cultura chinesa e discussões propostas de modo satisfatório. “Spider-man: no way home” (2021) tentou galgar também um local de privilégio nessa fase ainda pálida e sem muita conexão da MCU. Taika com amor e trovão diverte sim, mas foi apenas mediano.