"Transformers - O Despertar das Feras" (2023), de Steven Caple Jr.
5Pontuação geral
Votação do leitor 3 Votos
8.0

Onde: cinemas

 

Imagina depois de tantas críticas, pensar no meio de um filme de Transformers que Michael Bay fez falta.

Calma, isso não é nenhuma loucura. O diretor de cinco dos seis filmes que levaram os robôs da Hasbro para as telonas até hoje, Bay saturou tudo o que o público gostava na franquia. E gostava mesmo, já que a série já faturou mais de quatro bilhões de dólares.

Porém, o novo filme, Transformers: O Despertar das Feras, que se passa na década de 1990, fica devendo uma pitada daquela cafonice que Michael Bay instaurou como padrão no cinema-de-ação-videoclipe, que lotava as salas de cinema do verão americano e fazia sucesso nas locadoras daquela época. As únicas boas referências que o filme utiliza são a trilha sonora e uma cena homenageando Independence Day. De resto, não há motivo nenhum para fazer o filme em 1994.

Despertar das Feras é sequência direta de Bumblebee, uma prequel-sequel, que mantém a franquia com personagens que já conhecemos, mas joga a história para o passado. Aqui acompanhamos Noah e Elena, um jovem desempregado e uma estagiária de um museu, que acabam envolvidos na trama dos Autobots para recuperar uma chave que pode levá-los de volta para o planeta deles, mas ao mesmo tempo também pode trazer o apocalipse para a Terra.

Sim, de novo o mesmo plot de invasão e destruição.

Esse é o maior problema aqui: parece que estamos vendo o mesmo filme, pela sétima vez, apenas embalado em um cartaz novo. O Despertar das Feras parece um remake do péssimo A Era da Extinção, aqui trocando os dinossauros robôs por robôs animais e a China pelo Peru.

Se o início do filme promete algo homenageando Spielberg, com a relação da família de Noah e a amizade dele com os aliens, isso se perde quando tentam fazer um Indiana Jones Transformers. Todo o meio do filme, com a viagem para Cusco é arrastada com minutos e minutos infinitos de diálogos expositivos. Todas as referências do filme são explicadas na própria cena em que acontece, seja apenas uma homenagem visual ou uma piada, como as falas de Bumblebee.

Sabe o pior? Transformers já fez isso em outros filmes. Essa ideia da arqueologia funciona muito bem no primeiro filme, mas depois se perdeu em um emaranhado de histórias esdrúxulas. Nesse novo, ela é apenas sem graça.

Porém, nem só de deméritos vive O Despertar das Feras. O elenco é ótimo. A dupla de protagonistas, interpretados pelos carismáticos Anthony Ramos e Dominique Fishback, faz o que pode para segurar o roteiro fraco. E faz bem.

O elenco de dublagem, tantos dos Autobots, quanto dos Maximals (os robôs animais) e dos vilões Terrorcons mantém o padrão da franquia. Nomes como Michelle Yeoh, Ron Perlman, Cristo Fernández (o Dani Rojas de Ted Lasso), Peter Dinklage e Colman Domingo foram escalados. Mas grande destaque é Pete Davidson como Mirage, um Porsche piadista, que se torna parceiro de Noah.

Outro acerto no filme é a clareza na ação, coisa que ficou impossível em alguns filme dos Transformers feitos por Michael Bay. A primeira perseguição com Mirage pelas ruas de Manhattan é ótima e a grande batalha final entrega o épico, diverte e entrega algumas novidades, deixando um gostinho melhor do que o filme realmente tem. Ah… sem falar na cena que tem logo no início dos créditos que pode significar um futuro interessante para a série.

E talvez seja esse futuro que falte para tirar Transformers da mesmice que a franquia se tornou. Sempre a mesma história de invasão da terra, sempre Optimus Prime ou Bumblebee aparentemente se sacrificando e sempre uma mensagem na voz grave de Peter Cullen no final. Estamos vendo isso desde 2007 e Transformers: O Despertar das Feras não traz (quase) nada de novo para o barco. Ou caminhão. Ou Porsche.

No fim das contas, aquele contraluz, com o sol se pondo ou nascendo, não teria feito mal a ninguém aqui. Mas sem exagero também, ok?