"Trem Bala" (2022), de David Leitch 
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5.8

Onde: Cinemas

 

Imagina misturar O Assassinato no Expresso do Oriente, Quentin Tarantino, Deadpool e uma dose cavalar de energético (ou algo mais ilícito que tenha o mesmo efeito)? Trem Bala, novo filme de Brad Pitt tenta ser isso.

O diretor de Trem Bala, David Leitch, é conhecido por comandar Deadpool 2, Atômica, o spin-off de Velozes e Furiosos, Hobbs e Shaw, e ter criado, sem ser creditado na direção, um dos maiores sucessos do gênero de ação dos últimos anos: John Wick. Além disso, Leitch também já foi coordenador de dublês e inclusive emprestou seu corpo para Jason Bourne, em O Ultimato Bourne, e substituiu Brad Pitt em ao menos cinco filmes, incluindo Tróia e Sr. e Sra. Smith.

No filme, acompanhamos o personagem de Brad Pitt, Ladybug, contratado para roubar uma pasta cheia de dinheiro de um trem que parte de Tóquio para Kyoto. Claro, ele não é o único a bordo interessado nos dólares e a partir daí, um jogo de gato e rato acontece ao longo da viagem.

É uma trama básica e que tem na ação, no elenco e nas sacadas de roteiro suas principais muletas para um filme que nunca alcança o potencial que poderia ter, principalmente no quesito diversão.

Vamos lá…

Leitch dirige Trem Bala com a ação esperta de todos os seus filmes. É um estilo de ação diretamente influenciada pelo cinema asiático, como as produções feitas por Jackie Chan, por exemplo. Lutas coreografadas, uso do cenário como parte da ação e inserção de elementos cômicos ou pausas repentinas devido a fatos externos a ação. Entretanto, ao contrário do que o diretor conseguiu em Atômica ou John Wick, em que a ação e o espaço em que ela ocorre funcionam como um só elemento, aqui tudo parece menos inspirado. É, claro, mais difícil conseguir realizar esse tipo de cena em um ambiente apertado e retilíneo como o trem, mas filmes como Invasão Zumbi, Expresso do Amanhã e Incontrolável já mostraram que é possível.

Além disso, falta uma criatividade quanto ao uso de toda a gama de personagens da trama para a ação. Pitt tem as mesmas lutas,seja contra o assassino mexicano interpretado por Bad Bunny, a dupla formada por Bryan Tyree Henry e Aaron Taylor-Johnson ou com Zazie Beetz. Os adversários se movem e atacam todos do mesmo jeito. Se o diretor tivesse trazido elementos novos para cada um deles, assim como Chad Stahelski faz em John Wick 2 e 3, por exemplo, a ação de Trem Bala teria um ar de novidade a cada novo momento. Dessa forma, as lutas funcionam da primeira vez, da segunda, mas depois começam a ficar repetitivas e desinteressantes. 

Aliás, não há a menor necessidade de acompanhar essa viagem por duas horas. E esse é o grande problema de roteiro e direção que os filmes de Leitch têm, seja Deadpool 2, Hobbs e Shaw e esse aqui.

As piadas são excessivas, repetitivas e deixam de ser um elemento da narrativa para se tornar lugar comum, daqueles momentos bem previsíveis. O roteiro é inflado por ideias mirabolantes e deixam a história longa e cansativa.  um personagem, por exemplo, que tem uma missão primária que dá errada, aí ele luta, apanha, volta, bola outro plano, luta, faz as pazes, é jogado para fora do trem, volta para o trem e tem outra luta. E ele não é o protagonista, mas apenas um dos coadjuvantes que têm mais destaque na trama. A história, aliás, tenta ser tarantinesca, envolvendo todos em uma rede de fatos, que, em certo momento, já não faz mais sentido algum.

Só estamos sendo carregados pelo carisma dos passageiros do trem. Ou de quase todos.

É inegável que Brad Pitt está ótimo no filme. Assim como seu parceiro em 11 Homens e um Segredo, George Clooney, Pitt tem um charme único para esse tipo de trama descompromissada. Seja nas expressões, nos trejeitos mais bobos, a forma de se movimentar, reagir com surpresa aos acontecimentos ou mesmo nas características que insere aos personagens, como estar sempre mastigando e salientando o formato do maxilar, Pitt consegue sempre arrancar um sorriso do espectador.

Quem também brilha é Bryan Tyree Henry. Destaque como o Paper Boi, em Atlanta, Tyree usa e abusa da agilidade do roteiro para criar o personagem mais cativante do filme. Taylor-Johnson é um parceiro bacana para Henry e diverte com o sotaque carregado. Joey King também está excelente, mesmo que não tenha um grande momento no filme, assim como, o sempre ótimo, Hiroyuki Sanada. O mesmo não se pode dizer de Andrew Koji, que tem um certo protagonismo no início da trama, mas que fica perdido dentro das tantas histórias do filme. ZazeeBeetz e Bad Bunny nem esse prejuízo tiveram e aparecem por pouquíssimos minutos.

Trem Bala é um daqueles filmes que erra em não saber o que contar e, nesse caso, o pior: não saber o que mostrar. Há uma falação sem fim nos primeiros 30 minutos e uma sucessão de situações que não levam a trama para lugar algum. Ao contrário de um Operação Invasão, que tem as mesmas características criativas, por exemplo, David Leitch nunca consegue um grande momento aqui. E isso é um erro indesculpável para qualquer filme de ação. Todos os John Wick têm pelo menos uns dois desses momentos. Hobbs e Shaw, Atômica e Deadpool 2, idem.

Uma viagem expressa que adiciona tantas paradas, que por mais que tenha algum conforto, não compensa o tempo perdido.