Cantet utiliza uma trajetória específica de Karim D. , um descendente de argelinos que ascende na literatura e vê exposto o seu perfil radical no denominado Arthur Rambo, um personagem que em tese confronta o perfil construído na sua vida real com sua escrita – e principalmente pela trajetória de vida de sua mãe exposta na obra.
Digo em tese porque Arthur Rambo na verdade é uma representação digital do que é calado diariamente na sociedade francesa, um grito de revolta de um Karim deslocado do país em que vive enquanto jovem – e que o atual Karim aprendeu q dominar ao seu benefício próprio e que o vazamento dele ser o dono daquele raivoso perfil destrói em segundos todo esse seu esforço.
Mas a que ponto Karim deveria realmente “matar” Arthur Rambo? É aí que Cantet arregaça as mangas e mostra sua visão ampla sobre o contexto social francês através do novo palco de algoritmos da rede social – e o desfecho demonstra bem seu objetivo de gerar reflexão com seu cinema, alimentando a cada ato as contradições entre seu protagonista e seu lastro de vida digital/real estampadas literalmente na tela.
Cantet, assim como “Entre os Muros da Escola” expõe a importância do coletivo frente ao individualismo a cada dia mais reforçado em nossas vidas – desta vez trocando a sala de aula por um perfil de rede social. Um belo microfone para gritos geralmente excluídos, ignorados. Cinema social dos bons.
(Visto no Estação Net Rio)