“Infinity Pool” (2023), de Brendan Cronemberg
8Pontuação geral
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8.6

Onde: breve nos cinemas

 

Se a série White Lotus fosse dirigida pelo polêmico David Cronemberg, é bem possível que resultasse em algo bem próximo de Infinity Pool, filme que é na verdade escrito e dirigido pelo filho dele, Brendan Cronemberg – que segue os passos do pai ao transformar um enredo simples em um festival de horrores alucinógenos.

No filme, um escritor fracassado e sua esposa milionária (graças ao dinheiro do pai) decidem passar férias em um resorte de um país fictício para ajudá-lo a encontrar inspiração para o próximo livro. Lá, eles conhecem uma fã dele e seu marido e, após passarem o dia em uma praia deserta, os quatro se envolvem em um acidente que desencadeia uma susseção de eventos inacreditáveis. O trailer entrega algumas das reviravoltas da trama, que se transforma em algo que beira a ficção científica misturada a críticas sociais, com cenas altamente eróticas, violentas e explícitas.

O roteiro é o ponto alto da produção. As reviravoltas não soam forçadas e a história se desenrola de forma absolutamente tensa e intensa, começando lentamente para estabelecer a relação entre os protagonistas e, aos poucos, mostrar o caminho sem fim. O medo e apreensão inicial do personagen principal se transforma em um vício grotesco e deixa bem clara a crítica aos turistas endinherados que se sentem donos do mundo em países lindos mas extremamente pobres e corruptos. Os elementos surrealistas do filme agravam o desconforto em uma teia de acontecimentos sufocantes.

Em seu terceiro longa como diretor, Brendan aposta no estilo típico de filmes “alternativos”, da maneira como o título e os créditos aparecem aos ângulos escolhidos pelas cenas. Enquanto o roteiro prende, a direção e fotografia não trazem nada de novo, apenas parecem querer convencer o público de que esse não é um filme para as massas. São artifícios desnecessários, mas muitas vezes utilizados por diretores novatos que querem se diferenciar do padrão de Hollywood. Não atrapalha a narrativa, mas tampouco a ajuda.

O elenco, por outro lado, entrega atuações quase sem falhas. Alexander Skarsgård, cuja carreira vem em uma tragetória ascendente desde que interpretou o vilão Eric na série True Blood, traz o equilíbrio certo entre a frieza que beira a psicopatia e angústia de um homem perdido cujo ego o empurra para o abismo. E Mia Goth adiciona mais um filme perturbador ao seu currículo como musa dos filmes de terror menos mainstream e extremamente gráficos. Não fica claro se a oscilação entre os sotaques britânico e canadense da personagem são propositais, já que a atriz cresceu em Londres e no Canadá, e também morou no Brasil (sua avó é a atriz brasileira Maria Gladys, musa do cinema brasileiro independente nos anos 70 e colaboradora frequente de Miguel Falabella em novelas da Globo). Mas não importa – o modo de falar cai como uma luva em uma personagem cosmopolita como sua intérprete, mas psicologicamente problemática.

Infinity Pool não é um filme confortável de assistir, mas consegue prender o fôlego e a atenção em quase 2 horas de duração. O que ele peca, porém, é pelo excesso. Uma vez estabelecido o universo doente do enredo e as escolhas estilísticas das cenas de violência e sexo, o esforço para chocar se transforma em algo quase entediante. Feitas para chocar, algumas das sequências mais explícitas – principalmente perto do final – são desnecessárias e acabam se tornando um pouco entediantes. Uma edição mais ágil provavelmente o transformaria em um thriller mais impactante, mas ainda assim funciona como um bom exemplar da mente perversa e interessante da família Cronemberg.