“Fresh” (2022), de Mimi Cave
8Pontuação geral
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8.7

Onde: Hulu e Star+

Noa (Daisy Edgar Jones) é uma mulher em busca de um relacionamento estável, saudável, mas é confrontada pela realidade das relações superficiais promovidas pelos aplicativos. Após uma série de encontros desastrosos, ela relaxa e, neste momento – em que ela está fazendo compras no mercado – é abordada por Steve (Sebastian Stan), um homem que atende todos os seus desejos: sedutor, bem sucedido e com senso de humor refinado. Pelo menos é como se mostra incialmente.

Sem saber que na verdade quem estava fazendo “compras” no mercado era ele, Noa é ironicamente atraída para o começo de uma relação regada a muito sangue.

A princípio a relação vai de vento em popa, até que Noa descobre e sente na pele que os planos de Steve para ela passam longe do que ela jamais imaginaria.

A roteirista Lauryn Kahn (da série de comédia “Funny or die”) e a diretora Mimi Cave, em sua ótima estreia, se utilizam do sadismo para criticar o universo perigoso das relações casuais, levantando ao extremo a discussão acerca do papel de “mercadoria” ao qual a mulher é submetida em nossa sociedade patriarcal.

Os créditos iniciais só aparecem após trinta minutos de filme, indicando de forma quase didática o fim do primeiro ato e o ponto de virada na curva dramática. Escolha ousada e acertada da diretora, já que funciona e eleva nossas expectativas quanto ao que está por vir. E o filme faz jus a todas.

Na verdade, quando Noa entende e começa a sentir os efeitos de sua situação é que o filme ganha força e se inicia um jogo de morde e assopra guiado por uma escolha de movimentação de câmera extremamente inteligente e excelentes sequências regadas a muito sadismo, música e dança, que nos deixam desconfortavelmente vidrados.

A diretora vai além ao escancarar a realidade fatídica com a qual nós mulheres (bem como outros gêneros) convivemos diariamente – a da iminência do perigo constante. Primeiro no encontro inicial de Noa com um narcisista que a trata de forma escrota, fazendo com que ela se sinta um pedaço de carne, cuspida ao fim; em seguida, por um mero homem andando sozinho na rua na calada da noite – o que imediatamente aciona nosso alerta; e por fim, com a concretização da tragédia por meio do do encontro de Noa com Steve, que “literalmente” a objetifica como um pedaço de carne.

O filme é uma sátira não ficcional de comportamentos reais e repetitivos direcionados à mulher em uma sociedade opressora, machista e mais atual impossível. Para ser visto para ontem.