"Cha Cha Real Smooth" (2022), de Cooper Raiff
8Pontuação geral
Votação do leitor 3 Votos
9.5

Onde: AppleTV

 

Em seu segundo longa-metragem como diretor, Cooper Raiff apresenta uma obra leve, singela, gostosa de se ver, daquelas que nos colocamos imediatamente na trama e ficamos viajando por horas sobre como nossa vida poderia ter sido caso embarcássemos numa relação amorosa que apenas habitou nosso imaginário escolar por algum tempo. Neste “Cha Cha”, ele é também o personagem principal, além de escrever o roteiro. Talento ele tem. Tem também uma ótima atuação de Dakota Johnson.

Não há uma imensa e profunda discussão crítica proposta por Raiff. Nada mirabolante. Mas isso não deixa a obra pobre. Com uma montagem suave, o filme é fácil de ser devorado. E vale cada minuto da memória afetiva tão preservada em nosso âmago e que nos alimenta como o ser humano que somos hoje. Fatalmente em nossa essência humana adulta há um amor não correspondido, uma diferença de idade, uma falta de maturidade, uma hora que não era a correta, decisões inesperadas, uma ansiedade que prejudicou nosso desempenho escolar. E aqui em “Cha Cha”, garanto: todos os espectadores serão catapultados para seu segundo grau.

O que Raiff emula nesta obra de fato é a questão de quando é ou seria a hora exata de decidir o que queremos de nós mesmos e o que fazer na vida? Qual caminho seguir? Ele mostra assertivamente que não há uma regra certa. E isso é o gostoso do filme. Aquele núcleo familiar que parece ser comum, destacando obviamente o privilégio de escolhas em que se encontram, vai nos apresentando dilemas irônicos e muito sinceros de um menino com seus 13 anos e o irmão de 22. Ambos lutando em seus tempos com o amadurecimento.

 

A boa subversão do clichê

 

A subversão de alguns clichês do gênero são boas e fazem nossa experiência melhorar. Sempre lembrando que Raiff sabe com que público se comunica. A parte mais reflexiva da obra está por conta daquilo que Dakota Johnson representa. Ela não estava inserida no que era o privilégio daquela comunidade. Mas talvez seja pouco para o roteiro.

Aqui seguimos o comunicativo Andrew (Raiff), recém-formado no segundo grau e sem rumo. Ele tem um emprego do qual não gosta e anima festas de adolescentes nas horas vagas (para fazer uma grana extra). Numa destas festas, conhece a linda e solitária Domino (Johnson), que é uma mãe jovem e bastante reservada, mas mais velha que ele. Ela tem uma filha autista, Lola (Vanessa Burghardt). E sim, ele vai se apaixonar por ela, que é noiva. Isso vai trazer um ligeiro trauma da adolescência de volta à tela.

Raiff não adentra situações com obstáculos e conflitos que estavam na obra e poderiam ter nos engajado muito mais, caso aprofundadas. Ele nem quer. Pelo contrato, apresenta um final que reafirma seu roteiro. Vale dizer que o noivo da reflexiva e confusa Domino é quem nutriria um ótimo embate ao roteiro. A estreita relação entre Domino, sua filha e Andrew (que por vezes foi babá da menina autista) também poderia ter poucos minutos a mais em tela. Mas ele nos influencia como pensou e não investe nas dissidências. Ainda assim, “Cha Cha” consegue ser muito bom, bem produzido, cumpre seu papel e vale ser visto com a leveza pela qual se espera desta obra premiada em Sundance.