O mercado norte-americano tem um dom muito interessante de arrecadar fazendo piada de seus símbolos na mídia, seja os que fazem sucesso, ou os que já fizeram, ou aqueles que são ou foram apenas fiascos notórios. Tudo é aproveitado em nome do humor e do sarcasmo, tudo é produto nas mentes dos realizadores na América do Norte.
Neste caso da minissérie “Jean-Claude Van Johnson”, o objeto central da sátira é o astro dos filmes de ação dos anos 90, o belga Jean-Claude Van Damme, hoje relegado a filmes menores. E ele veste o personagem que criaram para ele com desenvoltura e bom humor, interpretando ele mesmo em meio a uma aposentadoria, e buscando voltar à ativa para estar mais próximo de uma ex-namorada, a maquiadora Vanessa (Kat Foster).
O grande trunfo para desencadear a comédia e as nostálgicas cenas que deram fama ao ator belga é a informação que, durante sua atuação em Hollywood, Van Damme teria um outro papel como agente secreto, sob codinome Johnson – assim como sua ex-namorada, parceira de ação nessas tarefas de espionagem e ação. E para os fãs de Van Damme, a minissérie é um colírio para os mais nostálgicos, com várias referências a atitudes, filmes e cenas que ele viveu no cinema.
E além disso, muitas piadas sobre o universo do cinema, sobre os bastidores de filmagens, relação do ator com agentes…..e todos os clichês possíveis dos filmes de ação que fizeram época na década de 90. Tudo é realizado de forma exagerada e um tanto trash como eram estes filmes, e dentro desta proposta essa mise en scene funciona demais, todo o absurdo é aceitável e cômico sob a visão excêntrica de Van Damme interpretando a imagem de si mesmo, como ator e agente.
O grande plot twist na verdade são pitadas de drama em meio aos episódios, sobre a origem do ator e questões sentimentais que em maior parte são exploradas em sua relação com a ex (que talvez seja a grande falha da minissérie, não ter uma atriz minimamente preparada para potencializar esses momentos, mesmo nos episódios mais canastrões), mas em outras via Luis (Moises Arias), parceiro de equipe com traumas infantis com relação a cartéis, e a sua agente Jane (a veterana Phylicia Rashad).
Ao final desta única temporada, o arco dramático fica claro que toda a trama mirabolante serve de fachada para se conhecer melhor as características que talvez fizeram Jean-Claude Van Damme não lidar bem com a fama e com o gerenciamento de sua carreira, e cujos fatores vemos tanto aqui no Brasil em certas carreiras meteóricas de jogadores de futebol, que é a falta de carinho e auto-estima que gera a necessidade de validação e afirmação o tempo inteiro com aqueles com que se relaciona, uma mensagem bonita e inesperada frente a uma série de propósito tão ligado à comédia.