Cadu Moura“Familia Soprano” costuma ser uma unanimidade quando se trata da quebra do conceito do protagonista rumo à sua jornada do herói ao apresentar a figura do homem difícil através do chefe de uma família mafiosa lidando com o estresse e suas próprias questões em meio ao furacão do crime organizado da máfia italiana de Nova Jersey.
Na verdade toda a estética de filme de máfia desta série é apenas uma cosmologia distrativa do que realmente o arco dramático de toda série quer discutir, que são as questões filosóficas envolvendo família, vida, morte, paixão, amor, raiva e outras tantas emoções que são declamadas através de sessões do protagonista com sua psiquiatra, de sonhos ou visões do protagonista acerca sua culpa por algum ato, ou em incidentes que o colocam frente a frente sobre a verdade da morte.
A figura da mãe do protagonista, que deixa a série por causa do falecimento da atriz que a interpretava, se torna mais forte a cada verdade ou reflexão confrontada por Tony ao longo das temporadas mesmo sem sua presença física, pois a menção a ela acompanha a série pela visão de cada um dos integrantes da família Soprano sob diferentes óticas, e sua persona delineia todas as fraturas que são expostas neste organismo familiar ao longo dos episódios.
Esse mosaico de complexidades que nos levam a reflexões profundas sobre significados imateriais faz da série um produto dramático muito mais especial que a pecha de “filme de máfia” poderia levar, e Tony Soprano ao mesmo tempo se torna um marco em termos de personagens humanos e complexos para o modelo de dramaturgia feita para a TV, onde confronta o que a casca de durão esconde no “tipo de homem silencioso, como Gary Cooper”, ua figura freudiana amassada por uma infância insensível que o maturou para ser o líder criminoso que ele sustenta em nome de seus laços familiares.
O final da série poderia ser um capítulo à parte para demonstrar toda essa capacidade cinematográfica que permite através da mise en scene do surreal ou usurpando do cinema ser a arte do sonho, num corte abrupto que pode significar a vida, a morte, a encenação do eu interior de Tony Soprano, ou simplesmente mais um delírio, seja de sonho ou pós-mortem, da história que mudou a história da TV e merece ser considerada a maior da história.